Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Presidente afirma que não espera ajuda do governo
DA SUCURSAL DO RIO
O presidente da Varig, Manuel
Guedes, 43, tem repetido que a
empresa é viável, embora o cerco
dos credores venha se fechando.
Desde que a Fundação Ruben
Berta rejeitou o memorando de
entendimentos proposto pelo comitê de credores, no mês passado,
Guedes passou a discutir pessoalmente com cada um deles.
O BNDES afastou-se das negociações e só voltará a analisar o
plano de recapitalização da empresa se houver acerto com os
credores. O executivo diz que a
Varig não quer ajuda financeira
do governo Lula, nem o perdão de
sua dívida. "Só queremos pagá-la
de forma ordenada", afirma.
Folha - A Air Comet, que administra a Aerolineas Argentinas, pode
assumir a Varig?
Manuel Eduardo Domingues
Guedes - Não há nada a este respeito. Estamos conversando com
uma série de investidores, mas
não com esse grupo.
Folha - Há negociações com companhias aéreas estrangeiras?
Manuel Guedes - Seria muito difícil contar com elas, porque a situação está ruim para todas. Nosso foco é com investidores internacionais, fundos e bancos de investimentos.
Folha - Quais são as bases da negociação?
Manuel Guedes - As conversas
estão no começo, mas o importante é que estão sendo feitas dentro do projeto inicial da empresa,
de atrair investidores e, a partir
daí, retomar as negociações com
o BNDES. A companhia é viável.
Os trabalhos feitos para o BNDES
mostraram isso.
Já houve uma melhoria do resultado operacional. A integração
das malhas da Rio-Sul, Varig e
Nordeste, ocorrida em setembro,
vai dar uma economia de US$ 80
milhões por ano.
Tivemos um pequeno lucro de
R$ 1 milhão na conta "'resultado
da atividade", que é diferente do
conceito de resultado operacional. Ele não inclui custos de juros,
de variações cambiais e de resultados extraordinários. Não pago
juros para transportar passageiros. Pago combustível, piloto, arrendamento da aeronave etc.
O que precisa ser reavaliado é o
aspecto financeiro. Temos uma
dívida total de cerca de US$ 800
milhões.
Folha - É o total da dívida?
Manuel Guedes - Só não inclui as
contingências: pagamentos de tributos que estamos questionando
na Justiça. Questionamos todos
os tipos de tributo que tenham sido objeto de manifestação de tribunais superiores quanto à sua
constitucionalidade. Se a empresa
perder todas as ações, significaria
mais R$ 1 bilhão de dívida.
Folha - Os US$ 800 milhões são dívidas vencidas ou a vencer?
Manuel Guedes - São dívidas a
vencer. Desse total, US$ 220 milhões vencem em 2003. O objetivo
é pagar US$ 70 milhões em 2003,
que são compatíveis com o fluxo
de caixa, e refinanciar o restante.
Reconhecemos a dívida, mas precisamos de condições melhores.
Não queremos descontos, não
queremos perdão, nem aumentar
a dívida de governo. Queremos
pagá-la, mas de forma ordenada.
Folha - Com a dissolução do comitê de credores, vocês continuam
negociando com o BNDES?
Manuel Guedes - O BNDES condiciona sua participação no plano
de capitalização à renegociação
com os credores e estamos discutindo com eles. Quando tivermos
uma visibilidade maior, vamos
reapresentar o plano ao BNDES.
Folha - Quem é o maior credor?
Manuel Guedes - O Banco do
Brasil, com US$ 100 milhões, é um
credor importante. Temos débitos de US$ 200 milhões com bancos japoneses e de US$ 50 milhões
com fundos de pensão americanos lastreados em recebíveis (garantidos pela receita futura da
venda de passagens). A dívida
com a BR Distribuidora está em
R$ 150 milhões, dos quais R$ 120
milhões já estavam negociados
para pagamento em cinco anos.
Folha - Há duas semanas, o senhor disse que esperava resposta
do BNDES sobre o plano de recapitalização proposto em março. Continua sem resposta?
Manuel Guedes - O BNDES disse
que está disposto a ajudar, desde
que seja feita a renegociação financeira com os credores.
Folha - Vocês estão sendo assessorados por algum banco ou consultoria neste momento?
Manuel Guedes - Estamos sem
nenhuma assessoria, no momento. A discussão está sendo feita diretamente pela diretoria.
Folha - O senhor disse que a Fundação Ruben Berta estaria disposta
a abrir mão do controle da Varig.
Hoje ela tem 87% das ações com direito a voto. Cairia para quanto?
Manuel Ribeiro - Ela não definiu
o nível, mas podia diminuir até
para 1%. A Fundação abre mão do
controle, com a condição de que o
dinheiro novo vá para Varig, não
para credores.
Folha - Vocês esperam alguma
ajuda do governo Lula?
Manuel Guedes - Faço questão
de dizer que não pretendemos
que o governo, seja ele qual for,
injete recursos na companhia.
Queremos um reexame do setor,
em termos de competitividade e
de regulamentação.
Folha - Quanto tempo a Varig sobrevive sem novos investidores?
Manuel Guedes - O problema
não é o tempo em si, mas em que
condições ela sobrevive. Precisamos de recursos para investimentos e modernização de frota etc. A
sobrevivência da Varig não está ligada diretamente à operação de
vôo, mas a como os credores pretendem apoiar ou não a companhia. Alguns deles, não todos, estão dispostos a apoiá-la.
Texto Anterior: Empresa deve R$ 693 mi a fundo Próximo Texto: Telefonia: Teles impedem concorrência da Embratel Índice
|