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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
EUA e PT dão atualidade a teorias de Rosa Luxemburgo
GILSON SCHWARTZ
ARTICULISTA DA FOLHA
A semana que provavelmente precedeu a ofensiva
militar dos EUA sobre o Iraque
começou com a celebração do
Dia Internacional da Mulher.
Ninguém, no entanto, lembrou
a obra da pensadora marxista
Rosa Luxemburgo (1871-1919).
Em suas análises econômicas,
"Rosa" formulou hipóteses fortes sobre o papel dos gastos militares e dos mercados externos
no desenvolvimento do capitalismo. Também ganharam atualidade suas previsões de que o
capitalismo conduz à barbárie.
Suas preocupações também
parecem ganhar vitalidade à
medida que se amplia o debate
dentro e fora do PT sobre a sustentabilidade do reformismo
"paz e amor" do governo Lula.
Rosa Luxemburgo foi uma das
principais críticas de Eduard
Bernstein, líder que se caracterizava pela opção em favor do "revisionismo" e do "reformismo".
Rosa aceitava a proposta de
mobilização do partido dos trabalhadores em favor das reformas, mas, como elas não levariam à superação do capitalismo, os operários deveriam
manter-se prontos para conquistar o poder via revolução.
Para os críticos à esquerda, o
governo do PT é revisionista e
não passa de mais uma versão
social-democrata da opção por
reformas no capitalismo.
Para os críticos à direita, o PT
vai fomentar ao longo do governo Lula um movimento de massas capaz de mudar o capitalismo brasileiro, de baixo para cima, em ações que lembrariam o
espontaneísmo ultrademocrático da proposta luxemburguista.
Na economia, a abordagem
convencional acredita que "a
produção cria seus próprios
mercados". É o que se conhece
nos manuais de economia como
"Lei de Say". A partir daí, a tendência dos mercados ao equilíbrio é só uma questão de tempo.
Contra essa visão, Rosa Luxemburgo dizia que a única possibilidade de expansão contínua
do capitalismo reside na conquista de mercados "externos".
Pode-se entender esses mercados como territórios ainda não
ocupados, mas também como
forças que estão "fora" do mercado, como o gasto público, e,
em especial, os gastos militares.
Frequentemente essas duas
interpretações do que seja "externo" ao capitalismo coincidem. Isso ocorre quando uma
potência capitalista recorre a
gastos militares para conquistar
novos territórios e, assim, ampliar os seus mercados.
Todo debate marxista em torno de Rosa Luxemburgo tinha
como pano de fundo a disputa
entre potências que, na virada
do século 19, lutavam contra
tendências depressivas cíclicas
que pareciam irreversíveis.
A luta pelo socialismo equivaleria, na prática, a unir os trabalhadores contra a guerra.
A bandeira que unificaria os
trabalhadores era "lutar contra a
guerra imperialista" cujas principais vítimas seriam os países
menos desenvolvidos.
Assim como o capital se expandia pondo-se fora dos espaços capitalistas, Rosa acreditava
que somente se o trabalho se colocasse fora do sistema poderia
forçar a vinda do socialismo.
O estabelecimento do Dia Internacional da Mulher, em 8 de
março de 1911, teve na militância
de Rosa um ponto de apoio. A
primeira conferência internacional antibélica foi organizada
por mulheres.
Defensora do "conselhismo
operário", Rosa Luxemburgo
oscilou entre o democratismo e
o ceticismo não só ante o capitalismo mas também ante o marxismo ortodoxo.
Para os herdeiros de Rosa, imperialismo é sinônimo de machismo. A uma semana de uma
provável guerra que muitos acusam de imperialista, sua obra feminista pioneira continua atual.
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