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FÓRUM NACIONAL
Coordenador do evento de debate econômico, que começa amanhã, diz que inflação maior pode permitir queda do juro
Reis Velloso defende "sólida situação fiscal"
CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO
O ex-ministro do Planejamento
João Paulo dos Reis Velloso, coordenador do Fórum Nacional, que
terá a partir de amanhã, no Rio,
sua 16ª edição, avalia que o governo pode "usar a flexibilidade da
meta de inflação" para assegurar a
"trajetória sustentável da queda
dos juros", desde que o país tenha
"uma sólida situação fiscal".
Isso significa que, para Reis Velloso, o país poderá, nos próximos
anos, deixar que a alta dos preços
seja um pouco maior, no limite
dos 2,5 pontos percentuais de tolerância previstos nas metas de inflação já estabelecidas, desde que
as metas de superávit fiscal sejam
rigorosamente cumpridas. O objetivo é assegurar a queda continuada dos juros e, conseqüentemente, o crescimento.
Reis Velloso -que participou
dos governos Emílio Garrastazu
Médici e Ernesto Geisel, de 1969 a
1979- disse que, a partir dos
anos 80, o Brasil "perdeu o know-how do crescimento sustentado"
que havia acumulado ao longo
dos 50 anos anteriores.
Ele diz que a retomada do crescimento deve ser gradual, podendo até não chegar aos 3,5% previstos para 2004, desde que tenha
continuidade e interrompa o ciclo
do que chama de "vôo de galinha"
(sobe um pouco e aterrissa).
O Fórum Nacional será aberto
amanhã, às 10h, pelo presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, e terá
como tema básico "Economia do
Conhecimento, Crescimento Sustentado e Inclusão Social".
"A inclusão social deve vir dentro do crescimento, não são coisas
separadas", diz Reis Velloso, resumindo a preocupação principal
do encontro deste ano, que vai até
sexta-feira, na sede do BNDES
(Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
O crescimento, segundo Reis
Velloso, pode até começar abaixo
de 3,5% ao ano, mas precisa alcançar em seguida de 4% a 4,5%.
Recessão de crescimento
O Brasil cresceu em ritmo bem
maior de 1931 a 1980. As médias
foram de 5,1% ao ano de 1931 a
1950; de 6,9% de 1951 a 1963; e de
7,8% ao ano de 1964 a 1980. "Naquele período, não houve recessão. Quando o país crescia pouco,
dizia-se que ele estava em recessão de crescimento."
Ele avalia que o mais grave da
perda de rumo sofrida pelo Brasil
após 1980, em termos de crescimento, foi o fim do processo de
geração contínua de emprego.
"Temos que partir da consciência
de que as últimas décadas não foram perdidas apenas para o crescimento, mas foram perdidas para o emprego, o que é pior."
Reis Velloso disse que o ciclo de
grande geração de emprego pela
economia brasileira acabou e que
não retornará mesmo com a retomada do crescimento sustentado.
Daí porque, na sua avaliação, não
basta a economia crescer, é preciso que o crescimento se dê com
atenção especial a setores que absorvam mais mão-de-obra. Ele
defende a adoção de políticas para
a geração de empregos, como o
estímulo às pequenas empresas.
O ex-ministro disse também
que o crescimento sustentado só
virá se o país conseguir manter
um superávit estrutural da sua balança de pagamentos, algo que
não é tradição da economia brasileira, e se houver uma forte retomada dos investimentos privados, já que o setor público está limitado para investir.
Esses assuntos, bem como o
problema educacional, serão temas de painéis específicos no Fórum. Em setembro, deverá haver
uma versão reduzida do evento
para discutir a questão social e
aprofundar o debate sobre a retomada do crescimento sustentado.
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