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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
Euro forte dificulta crescimento mundial
GILSON SCHWARTZ
ARTICULISTA DA FOLHA
Ainda é extra-oficial, mas
foi divulgado pelas autoridades alemãs: o FMI reviu seus
cálculos e agora está mais otimista com a recuperação da
economia mundial. É mais uma
razão para duvidar dos otimistas, a julgar pelo desempenho
nada brilhante dos economistas
do FMI nos últimos anos.
Os pessimistas continuam colecionando dados e argumentos. Nos últimos dias, o cenário
tornou-se ainda mais azedo
com o fortalecimento do euro,
que chegou ao seu valor mais alto contra o dólar em 17 meses. O
consenso agora é o de paridade
entre as duas moedas no prazo
de algumas semanas.
O euro forte reflete principalmente a fraqueza da economia
norte-americana.
Os indicadores mais recentes
são desanimadores. Os consumidores estão retraídos. A crise
de confiança na contabilidade
das empresas com ações em
Bolsa não sai das manchetes. O
clima de guerra dos EUA contra
o resto do mundo acrescenta
instabilidade militar à incerteza
econômica. E o desaquecimento
da economia norte-americana
traz de volta o fantasma do déficit público, pois crescimento
menor é sinônimo de menor arrecadação de impostos. O déficit
orçamentário estimado para
2002 já passa de US$ 100 bilhões
(é o dobro das previsões feitas
inicialmente pelo Congresso dos
EUA). Aliás, as condições econômicas na União Européia estão longe do ideal. Além da maquiagem nas contas públicas para acomodar o desajuste fiscal, a
inflação está acima das previsões. O BCE (Banco Central Europeu) soou o alarme na semana passada, colocando sua estimativa de inflação em 2002 na
casa dos 2,5%, contra uma previsão no final do ano passado de
no máximo 2,1%. As Bolsas européias refletem esses desequilíbrios e fazem água. De um lado,
a inflação além da previsão coloca em risco o crescimento econômico, pois aumenta as chances de uma elevação dos juros. O
BCE só não aumenta as taxas
agora porque a valorização do
euro torna mais baratas as importações. Ou seja, ajuda a conter o crescimento e a inflação.
Mas do ponto de vista das empresas européias o resultado é
igualmente comprometedor,
pois o euro forte prejudica suas
exportações.
O resultado para essas empresas é o pior dos mundos. O euro
forte (por causa da fragilidade
norte-americana) as torna menos competitivas. Ao mesmo
tempo, entre as pressões inflacionárias européias estão os aumentos salariais. É um garrote
em que os grupos europeus perdem nos custos e na competição
com empresas de fora.
Além da moeda forte e dos
custos em alta, os europeus sofrem os efeitos da fraqueza da
economia norte-americana. Afinal, os investimentos e o comércio transatlânticos são o cerne
da dinâmica dos países ricos.
Não é por acaso que as Bolsas
sofrem. Na semana passada, os
mercados globais chegaram ao
nível mais baixo desde a crise de
11 de setembro de 2001. Nem é
casual que os lobbies protecionistas estejam tão ativos. Sem falar no fortalecimento das tendências políticas de direita que,
lá como cá, faturam o medo coletivo da destruição do futuro. A
palavra "pânico" voltou a frequentar os mercados.
O euro forte não reflete uma
economia vigorosa, é só o efeito
de um sistema global desequilibrado. Ao contrário, o fortalecimento recente do euro torna-se
mais um obstáculo para a recuperação da economia mundial.
Só os técnicos do FMI apostam numa tendência diferente.
Não seria a primeira nem a última aposta perdida por esses
economistas que vivem em busca da ordem mundial perdida.
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