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DEPOIS DO CALMANTE
Estrategista do JP Morgan, que define o índice, diz que realidade do Brasil é melhor que os 1.315 pontos
Mercado exagera, diz "homem risco-país"
SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK
"O risco-país não reflete a realidade da economia brasileira", diz
o analista Graham Stock. A opinião não é inédita e dela compartilham outros economistas. A diferença é que Stock é o estrategista-chefe de mercado para a América Latina do mesmo JP Morgan
que define o risco-país.
A declaração, feita à Folha, vem
no final de uma semana em que o
risco-país brasileiro fechou em
1.315 pontos, o maior patamar
desde março de 1999. É o quarto
maior do mundo, atrás apenas da
Argentina (6.366 pontos), Nigéria
(1.469 pontos) e Equador (1.331).
O risco-país mede, em centésimos de pontos percentuais, a diferença entre os juros pagos pelos
títulos da dívida de um país em
comparação com os do Tesouro
dos EUA, de risco zero. Na prática, é um termômetro da confiança do investidor externo no país.
"Acreditamos que a realidade
[brasileira" é mais favorável do
que esta, que os fundamentos são
melhores e se fortaleceram nas últimas semanas", disse Stock. Leia
trechos da entrevista:
Folha - Segundo o JP Morgan, o
Brasil tem hoje o quarto maior risco-país do mundo. O sr. acha que isso realmente reflete a realidade da
economia brasileira?
Graham Stock - Não. Acreditamos que a realidade é mais favorável do que esta, acreditamos
que os fundamentos macroeconômicos são melhores e se fortaleceram nas últimas semanas.
Acreditamos que as medidas econômicas tomadas anteontem são
um passo na direção certa e ajudarão a acalmar o mercado e que
o resultado eleitoral será favorável
para que a reforma no Brasil continue acontecendo.
Folha - Por que então o aumento
repentino do risco?
Stock - A principal razão foi o
deslocamento dos mercados locais, causado inicialmente pelas
mudanças nos fundos. Isso fez
aumentar a preocupação com a
renegociação da dívida interna.
Mas acima de tudo isso está a
preocupação com a dinâmica da
dívida brasileira.
Folha - Então não é verdade que o
crescimento de Luiz Inácio Lula da
Silva nas pesquisas de intenção de
voto seja o maior problema da economia brasileira neste momento
aos olhos do mercado externo?
Stock - Não. Principalmente
porque nos últimos dias o risco da
vitória de Lula já não parece mais
tão real. Todas as pesquisas que
temos visto apontam que a diferença entre ele e José Serra está diminuindo, portanto é complicado
concluir que a crise atual vem daí.
A causa principal foi a falta de
confiança no mercado interno.
Assim, o grande desafio para as
autoridades nos próximos dias
será restaurar a confiança do mercado local.
Folha - O sr. acha que as medidas
anunciadas na quinta-feira colaboram para isso?
Stock - São um passo na direção
certa, pois apontam que o governo está mesmo interessado em
atingir uma disciplina fiscal.
Achei acertada principalmente a
decisão de utilizar mais recursos
do FMI para enfatizar para os
mercados externos que a posição
do Brasil é razoavelmente forte.
Acredito, portanto, que são passos positivos, mas, para garantir
que terão o efeito desejado, será
preciso ver mais leilões bem-sucedidos da dívida interna do que vimos nos últimos dias.
Folha - Por falar nisso, os analistas nova-iorquinos têm sofrido
muita pressão por suas previsões,
nem sempre isentas ou acertadas...
Stock - Se você não se incomodar, prefiro não comentar.
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