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CENÁRIOS
De 25 economias em desenvolvimento, 19 devem crescer mais que o país; porto seguro está longe, dizem analistas
Brasil fica atrás de emergentes em 2004
ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
O magro desempenho da economia nos últimos três anos tem
feito dos 3,2% de expansão esperados para 2004 motivo para festa. Ainda assim, o país continuará
na rabeira do crescimento no
mundo emergente. Pesquisa divulgada recentemente pela revista
"The Economist" mostra que 19
entre 25 países em desenvolvimento terão desempenho do PIB
(Produto Interno Bruto) superior
ao do Brasil no próximo ano.
O levantamento é feito com base na média das projeções de dez
importantes bancos e institutos
de pesquisa. Segundo os resultados, o Brasil empatará, em 2004,
com duas outras nações e ganhará
de apenas três: Egito (3,1%), Israel
(2,2%) e Hungria (2,9%).
O pior é que economistas são
unânimes ao afirmar que a capacidade de expansão brasileira, no
médio prazo, é limitada. Segundo
alguns analistas, o chamado PIB
(Produto Interno Bruto) potencial do país -capacidade que
uma economia tem de se expandir sem pressões inflacionárias-
gira em torno de 3%.
Esse é um entre vários outros
indicadores de vulnerabilidade da
economia brasileira que deixam,
apesar da recente recuperação, o
país ainda longe de preencher os
requisitos para ser considerado
porto seguro para investimentos.
Recente estudo do próprio Ministério da Fazenda ("Risco soberano e prêmios de risco em economias emergentes") lista os dados que mais influenciam as decisões das agências de classificação
de risco para conceder a um país a
cobiçada nota de grau de investimento ("investment grade"), que
indica o baixo risco de investir.
Os indicadores
Uma análise de seis desses indicadores feita pela Folha com base
em dados de consultorias, bancos
e da agência Moody's mostra que
o Brasil está muito aquém de outros emergentes que já receberam
essa classificação:
1) taxa elevada de crescimento.
Apesar da melhora de 0,7% neste
ano para 3,2% em 2004, o Brasil
ainda ficará a uma longa distância
de países que são grau de investimento, como China (7,7%), Rússia (5,1%) e Malásia (5%);
2) elevada renda per capita em
dólares. A do Brasil perde significativamente para a de de países
emergentes considerados de baixo risco. Deve encerrar 2004 em
US$ 2.829, 68% inferior à do Chile
e 118% menor que a do México;
3) baixa inflação ao consumidor. Embora deva cair de 9,7%
neste ano para cerca de 6% em
2004, a inflação ao consumidor
(medida pelo IPCA) ainda estará
bem acima da de outros países,
como Malásia (0,8%) e Tailândia
(1,5%), no próximo ano;
4) baixa relação entre dívida externa total (pública e privada) e
receitas em contra corrente (como exportações, royalties e ganhos com fretes). Quanto menor
esse indicador, maior a capacidade de determinado país para fazer
frente ao seu endividamento sem
depender de recursos externos.
Por isso, é considerado um dos
principais dados acompanhados
pelas agências de risco. E, novamente, nesse caso, o Brasil deixa
muito a desejar.
Para a economia brasileira, essa
relação é de 2,83, segundo dados
do Itaú. Para países que são grau
de investimento, oscila de 0,2 a 1.
"Essa é nossa pior relação. Como as perspectivas de redução da
dívida externa total são baixas, a
solução para melhorá-la é triplicar o volume de exportações, se
quisermos ser "investment grade'", diz Joel Bogdanski, gerente
de política monetária do Itaú;
5) elevado grau de abertura comercial, medida pela corrente de
comércio (soma de exportações e
importações) em relação ao PIB.
É outro indicador listado como de
extrema importância para a redução da vulnerabilidade externa.
"Em países com elevada corrente de comércio em relação ao Produto Interno Bruto, os custos de
eventuais ajustes em razão de
choques externos são menores",
diz Alexandre Bassoli, economista-chefe do HSBC Bank.
Segundo Bassoli, é fundamental
ter altos montantes tanto de exportação como de importação,
ainda que o saldo não seja grande.
Isso porque, na ocorrência de
uma crise de financiamento externo, países endividados precisam aumentar seu saldo comercial para conseguir receita extra.
Países com alta corrente de comércio conseguem isso com
maior facilidade e rapidez:
"Imagine que um país precise
gerar um saldo comercial de US$
10 bilhões. Se ele importa e exporta US$ 50 bilhões e tem saldo zero,
precisa cortar importações ou elevar exportações em 20%. Se essa
corrente é de US$ 100 bilhões, o
ajuste passa a ser só de 10%", diz.
No segundo caso, ajustes monetários (alta dos juros) e cambiais
(alta do dólar) são menores.
Melhora
Segundo Bassoli, a corrente de
comércio do Brasil tem melhorado significativamente. Ainda assim, deve saltar de 28% do PIB,
neste ano, para 30% do PIB, no
próximo ano. A relação é muito
inferior à de países como Malásia
(179%) e México (56%);
6) ausência de episódios de moratória a partir de 1975. O Brasil
decretou moratória em 1982 e deu
o calote no pagamento da dívida
externa em 1987.
A análise desses indicadores
mostra que o Brasil tem um longo
caminho a trilhar se quiser atingir
nos próximos anos a categoria de
grau de investimento.
Para chegar lá, o fundamental,
na opinião de analistas, é investir
no aumento da corrente de comércio e em fatores que possam
contribuir para a elevação do PIB
potencial, como educação e produtividade.
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