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REAÇÃO
Levantamento da FGV feito em outubro mostra que 45% das indústrias planejam elevar investimentos; há um ano, eram 33%
Empresas pretendem investir mais em 2004
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
Os empresários brasileiros estão
dispostos a investir mais em 2004.
A recuperação de alguns setores
da economia desde julho, especialmente por conta das exportações, deu novo gás às indústrias,
que estão mais animadas para investir em capital fixo, como novas
máquinas e novas fábricas.
É o que constata a FGV (Fundação Getúlio Vargas) em levantamento feito em outubro com
1.341 indústrias de transformação
-45% delas informaram que
pretendem aumentar os investimentos em 2004. Há um ano, 33%
diziam que iriam investir mais em
2003 do que em 2002.
Já 36% delas disseram que desejam investir em 2004 o mesmo valor deste ano (44% em 2003) e
19% planejam reduzir o valor
(23% em 2003). Resumo: 81% das
indústrias pretendem manter ou
aumentar investimentos em 2004.
Em outubro de 2002 esse percentual (para 2003) era de 77%.
A intenção de investir mais no
ano que vem é guiada principalmente pelo resultado das exportações, apesar de a reação de alguns
setores no mercado interno também ter tido influência positiva
nas projeções de investimentos.
Ambiente favorável
"Já existe um ambiente mais favorável para os investimentos no
país", afirma Aloisio Campelo Jr,
coordenador do Núcleo de Bancos de Dados Especiais da FGV.
"Estamos num momento em que
a expectativa do consumidor e do
empresário é fundamental para
dar a virada do investimento",
afirma Francisco Pessoa Faria,
economista da LCA Consultores.
O setor de bens intermediários,
no qual estão as indústrias de papel, celulose e química, é o que
mais tem intenção de elevar os investimentos no ano que vem
-66% das empresas informaram
que querem investir mais. No levantamento de 2002, 23% tinham
esse desejo para 2003.
A mudança mais favorável ao
investimento desse setor é baseada em dois fatores: boa parte da
produção é exportada e boa parte
da capacidade produtiva das fábricas está ocupada.
"Operamos há três anos a todo
o vapor por causa das exportações. Vamos investir mais em
2004 porque esperamos a recuperação do mercado internacional",
afirma Osmar Zogbi, presidente
da Bracelpa (reúne as indústrias
de papel e celulose).
O setor já anunciou investimentos de US$ 14 bilhões de 2003 a
2012 em novas fábricas e na modernização de equipamentos para
dobrar a exportação de celulose e
elevar em 50% a de papel.
Exportações têm peso
O setor de bens de capital, que
compreende as fábricas de máquinas, caminhões, ônibus, tratores e aeronaves, também tem boas
perspectivas de investimentos no
ano que vem -60% delas pretendem investir mais. Em outubro de
2002, 40% delas tinham essa pretensão para este ano. Esse dado,
no entender dos economistas da
FGV, indica que os empresários
prevêem também um mercado
interno mais aquecido em 2004.
O aumento de 6,9% na produção industrial de junho a setembro deste ano, segundo o IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística), já contribuiu, na
análise de economistas, para melhorar as perspectivas de investimentos das indústrias. As exportações, no entanto, continuam
tendo o maior peso na decisão de
investir dos empresários.
Quem depende mais do mercado interno já tem perspectivas
mais pessimistas. O setor de bens
de consumo, no qual estão as indústrias têxteis, a eletroeletrônica
e a de alimentos, reduziu, na média, a expectativa de investimentos para 2004. Segundo a consulta
da FGV, 33% das empresas desse
setor pretendem elevar investimentos em 2004. Em 2002, 49%
tinham tal intenção para este ano.
Esse setor não tem planos de investir porque ainda trabalha com
ociosidade. Segundo a FGV, em
outubro o uso da capacidade instalada das fábricas de bens de
consumo era de 77,3%, maior do
que a de um ano atrás (76,6%),
mas ainda baixa para justificar a
ampliação dos investimentos.
A indústria do vestuário trabalha com ociosidade média de
35%. "Só vamos falar em investimentos quando ocuparmos toda
a capacidade produtiva", diz Roberto Chadad, presidente da
Abravest, a associação do setor.
Produção no limite
Um dado que chama a atenção
no levantamento da FGV é que a
indústria de televisores, rádios e
toca-fitas, que depende do mercado interno, está mais animada para investir -69% das empresas
pretendem investir mais em 2004.
Em 2002, 18% delas tinham essa
intenção para 2003.
A Philco informa que, como as
indústrias do setor reduziram significativamente a produção, o que
pode acontecer é uma empresa
aumentar a produção de uma linha de produto ou ainda adquirir
equipamentos mais modernos,
isto é, não há intenção de fazer investimentos maciços no setor.
Motivo: as fábricas de TVs, que já
chegaram a vender cerca de 8 milhões de aparelhos por ano, devem comercializar no máximo 5
milhões de unidades neste ano.
A melhora na disposição de investir dos empresários também
foi constatada pelo Iedi (Instituto
de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) numa consulta
feita na sexta-feira com 20 grupos
industriais -12 informaram que
pretendem investir mais em 2004
do que neste ano.
As empresas são basicamente
dos setores de siderurgia, papel e
celulose, petroquímica, cimento e
calçados. Dos 20 grupos, 16 informaram que os projetos ainda não
deslancharam em virtude da retomada de alguns setores da economia ter ocorrido somente a partir
de julho deste ano.
A intenção de investir está mais
ligada ao fato de alguns setores estarem com capacidade de produção no limite do que à expectativa
de expansão econômica, segundo
Ricardo Carneiro, diretor do Centro de Estudos de Conjuntura e
Política Econômica da Unicamp.
"Os investimentos podem voltar,
mas de forma ainda limitada."
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