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BYE BYE, BRAZIL
Balanços apresentados à SEC mostram que as companhias vão enxugar atividades e vender ativos no país
Empresas estrangeiras se afastam do Brasil
MARCIO AITH
DE WASHINGTON
Apesar do recente otimismo
que atingiu os mercados com o
fim do processo eleitoral no Brasil, um quadro extremamente negativo do país está sendo exposto
por companhias estrangeiras na
SEC (Securities and Exchange
Commission), a comissão de valores mobiliários americana.
Balanços do terceiro trimestre
de 2002 apresentados por grupos
como Monsanto, AT&T Latin
America, BellSouth, FleetBoston,
Citigroup e Alliant Energy mostram que as perspectivas para
2003 continuam desfavoráveis.
Essas companhias informaram
aos mercados que vão continuar
enxugando suas atividades e seus
ativos no Brasil. Algumas avaliam
publicamente a possibilidade de
deixar o país. Os motivos são diversos. Vão desde desde problemas societários e cambiais a incertezas regulatórias e políticas.
No setor financeiro, o Citigroup
e o FleetBoston, os dois grupos
americanos com maior atividade
no Brasil, informaram terem
mantido a redução de suas exposições mesmo depois de terem se
comprometido com o governo
brasileiro, em agosto passado, a
manter o nível de seus negócios
no país.
"Continuamos a reduzir ativamente o perfil de nosso risco por
meio da diminuição constante
nas exposições a grande corporações, tanto domesticamente
quanto na América Latina", informa o balanço trimestral do banco.
No balanço anterior, de agosto, o
Fleet informava que essa diminuição concentrava-se no Brasil e na
Argentina. Segundo cálculos de
Gerard Cassidy, analista do RBC
Capital Markets, o corte de linhas
do FleetBoston ao Brasil somou
US$ 600 milhões somente no terceiro trimestre do ano.
No mesmo período, o Citigroup, que controla o Citibank,
divulgou números mostrando
um corte de US$ 1,2 bilhão em sua
exposição ao Brasil - sendo que
US$ 600 milhões em linhas comerciais de curto prazo e o restante nas demais operações. A redução desde dezembro de 2001
atingiu US$ 2,6 bilhões. "O Citigroup continua monitorando o
impacto econômico das incertezas do mercado brasileiro e potenciais efeitos em nosso portfólio", diz o balanço.
Trunfo
Nos balanços apresentados à
SEC, as companhias (americanas
e estrangeiras) exibem a fuga do
Brasil como um trunfo. Segundo
analistas, é uma tentativa de evitar
que suas classificações sejam rebaixadas por agências de risco
num ano em que o ambiente corporativo nos EUA (contaminado
por escândalos) e a queda das Bolsas no mundo já as afetam negativamente.
Os balanços de companhias
de energia trazem as piores análises. "Estamos muito desapontados com os resultados de nossos
investimentos no Brasil", informa
Erroll B. Davis, presidente da
americana Alliant Energy.
A companhia americana
controla a distribuidora de energia Cataguazes-Leopoldina. "É vital que consigamos resultados
melhores no futuro próximo. Medidas foram tomadas para melhorar o desempenho operacional de
nosso negócio, mas a baixa venda
de energia, desvalorizações cambiais e a continuidade de incertezas políticas e regulatórias resultaram num desempenho negativo
persistente que não podemos tolerar indefinidamente. Como já
indicamos antes, não temos intenção de investir capital adicional no Brasil até o ano de 2003. Se
não constatarmos melhorias de
mercado nesse período, iremos
reavaliar nosso compromisso
com o mercado brasileiro", informa a empresa.
A Alliant anunciou perdas de
US$ 19 milhões no terceiro trimestre de 2002. No mesmo trimestre do ano passado, o prejuízo
fora de US$ 3,7 milhões. A companhia creditou a maior parte
desses resultados negativos neste
ano ao racionamento e a problemas na construção de uma usina
a gás.
No setor de telecomunicações, a AT&T Latin America e a
BellSouth traçam cenários péssimos para 2003, ameaçam vender
ativos no país ou tomar uma atitude ainda mais drástica. A
AT&T Latin America, por exemplo, registrou um prejuízo no terceiro trimestre muito maior do
que se estimava e informou que
poderá pedir concordata ou vender parte de seus ativos em toda a
região. Já a BellSouth comunicou
à SEC que estuda a venda de suas
participações nas duas operadoras de celular das quais é sócia no
Brasil- a BCP, que opera telefonia celular na região metropolitana de São Paulo, e a BSE, que atua
em seis Estados do Nordeste.
A gigante da biotecnologia
Monsanto também informa que
vai manter, para os próximos
anos, sua estratégia iniciada em
junho de "reduzir o risco de fazer
negócios no Brasil e na Argentina". A companhia creditou seus
prejuízos em 2002 problemas econômicos na América Latina.
Outras companhias, como
Syngenta, Hypercom e Fibercore
também anunciaram a disposição
de reduzir suas operações no Brasil ou comunicaram ao mercado
já as terem reduzido. Alcan, Basf,
General Motors e Diageo limitaram-se a relatar perdas decorrentes da desvalorização e da queda
nas vendas no Brasil.
Para Fernando Carneiro,
consultor sênior da companhia
de análises Institutional Shareholder Services (ISS), com sede em
Washington, a maioria dos balanços apresentados à SEC mostra
que o ceticismo corporativo com
relação ao Brasil ainda persiste.
Segundo ele, esse ceticismo decorreu primordialmente de motivos econômicos e societários, e
não políticos.
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