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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
Pobreza intelectual condena políticas econômicas
GILSON SCHWARTZ
ARTICULISTA DA FOLHA
No "Wall Street Journal" , Robert L. Bartley reclamou na semana passada da
miséria da inteligência econômica nos Estados Unidos. Bartley entrou no "Journal" em
1962 e há 25 anos é editorialista e
responsável pelas áreas de opinião de todas as edições do principal jornal econômico internacional. Na Folha, Emir Sader,
professor de sociologia da USP e
da Uerj, cobrou em artigo publicado na última sexta-feira uma
"teoria da saída do neoliberalismo e do tipo de sociedade que o
substituirá".
Dizem que não existem coincidências. O fato é que tanto o
ideólogo de direita quanto o intelectual de esquerda sentem-se
frustrados e céticos com relação
ao futuro pela mesma razão:
a inexistência de boa teoria, coisa que existe apenas quando
há bom debate e inteligência coletiva.
Bartley recomenda a Bush, cuja economia está entalada numa
crise de confiança, rumando para a deflação e em estado de
guerra, que consulte os economistas da era Reagan, os
"supply-siders". E lamenta que
muitos talentos intelectuais confiáveis do ponto de vista ideológico estejam agora manchados
pelas mutretas financeiras com
que se envolveram em Wall
Street. A vitória política de Bush
não anula o fardo de uma economia fragilizada. Alan Greenspan (presidente do banco central dos EUA) sai de cena em junho de 2004, talvez antes.
No Brasil, a pobreza intelectual do debate econômico também é visível, e o professor Sader cobra, antes de mais nada,
uma avaliação cuidadosa da herança neoliberal. Não é o que revela o discurso petista, cada vez
mais colado à retórica da chamada sabedoria convencional.
Para atender ao reclamo de
Sader, seria preciso ter no Brasil
a mesma coisa que Bartley cobra
nos Estados Unidos: "liderança
intelectual".
Celso Furtado, reunido no Rio
de Janeiro com Lula e Maria da
Conceição Tavares, declarou
apenas que o petista por enquanto dança a música que os
mercados querem ouvir. Se, como quer o professor, "derrotamos o neoliberalismo", a primeira vítima deveria ser a política econômica que, à custa de juros altos (dizem agora que é preciso elevá-los ainda mais), aperto fiscal brutal (dizem que é preciso arrochar ainda mais) e obediência ao Fundo Monetário Internacional (que estaria
patrocinando esse garrote duplo) impede exatamente o que
se pretende, a saber, a utilização
da política econômica para desenhar um novo modelo econômico. Programas contra a fome
são oportunos e louváveis, mas
os indicadores sociais mudarão
apenas se mudar a política econômica.
Na economia global, a descoordenação entre Estados Unidos e União Européia é a manifestação global de ausência de liderança intelectual na economia. Na semana passada, Alan
Greenspan sublinhou a diferença de modelos entre o banco
central norte-americano (o Fed)
e o BCE (Banco Central Europeu). Nos Estados Unidos, a autoridade monetária tem o mandato de combater a inflação e
defender o nível de emprego. Na
União Européia, o BCE herdou
do banco central alemão a cultura antiinflacionária obsessiva e
não inclui a defesa do emprego
nas suas atribuições.
No Brasil, o debate se limita a
saber se o BC vai ser independente ou autônomo.
Talvez seja pobreza intelectual
(como quer Bartley), talvez seja
falta de uma boa teoria (visão de
Sader), o fato é que em nenhum
lugar se sabe ao certo como redesenhar as instituições e inventar novas fórmulas de política
econômica.
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