|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Operação "mãos limpas" começa a sair do papel
DA REPORTAGEM LOCAL
A operação "mãos limpas" que
o próximo governo deve fazer no
meio sindical já começa a sair do
papel. Um relatório sobre corrupção sindical e má gestão de recursos públicos, preparado por um
grupo de dez pessoas, deve chegar
às mãos do presidente eleito, Luiz
Inácio Lula da Silva, no dia 26 deste mês. Para essa data, em São
Paulo, está previsto um encontro
com mais de 50 sindicalistas.
O objetivo da reunião é discutir
e recolher sugestões sobre as mudanças que devem ser feitas na
atual estrutura sindical. A Folha
informou, em reportagem publicada no último domingo, que
uma das idéias em estudo é alterar
a política de distribuição de verbas do FAT (Fundo de Amparo ao
Trabalhador) repassadas a entidades para fazer cursos de qualificação profissional.
As alterações devem ocorrer
por causa das denúncias de desvio
de dinheiro público que envolvem organizações sindicais. Várias entidades -de trabalhadores
e de patrões- estão sob investigação do TCU (Tribunal de Contas da União) e da CGU (Corregedoria Geral da União).
O relatório que está sendo preparado por um grupo de sindicalistas, advogados, procuradores e
especialistas em relações de trabalho deve detalhar ao novo governo quais são as entidades e os dirigentes suspeitos de enriquecimento ilícito, corrupção e má utilização de dinheiro público. O documento também deve listar processos eleitorais fraudulentos na
disputa pela direção de sindicatos
e casos de nepotismo regulamentados até nos estatutos de algumas entidades -como sindicatos
que "passam" de pai para filho.
Um dos casos que devem constar do relatório é o de desvios de
verba do FAT constatados pela
Justiça no Sindicato dos Metalúrgicos de Itaquaquecetuba. As irregularidades culminaram com a
destituição do presidente Alberto
Rocha, apoiado anteriormente
pela Força Sindical. Procurado,
ele não foi localizado pela Folha.
Lá, os alunos Fernanda, Patrícia, Cilene, Sonia e Reginaldo, por
exemplo, inscreveram-se num
curso de informática na tentativa
de melhorar o currículo para encontrar um emprego. A promessa
era oferecimento de um curso
completo, mais ajuda no vale-transporte e no vale-alimentação.
Hoje, eles e outros alunos, além
de alguns professores, são testemunhas -em depoimentos registrados em cartório- de que os
cursos não forneceram material
didático, computadores para treinamento, muito menos vale-transporte e vale-alimentação, como determinam os convênios entre as entidades e o governo.
No caso de Itaquaquecetuba, o
curso foi administrado por um
instituto terceirizado de educação
profissional. Deveria ter cem horas, mas, na prática, durou 40. O
dinheiro recebido, entretanto, foi
para custear as cem horas.
Nesse sindicato, que representa
7.000 metalúrgicos, o desvio contabilizado até agosto pela nova diretoria chegou a R$ 200 mil.
(CR e FF)
Texto Anterior: Fim de taxa vai atingir entidades patronais Próximo Texto: Ano do Dragão: Governo tem poucas armas antiinflação Índice
|