São Paulo, quinta-feira, 17 de novembro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

COMÉRCIO GLOBAL

Segundo presidente, o governo francês resiste a corte de tarifas na agricultura por razões políticas e não econômicas

Eleições barram abertura na França, diz Lula

PEDRO DIAS LEITE
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou ontem o protecionismo dos países europeus e acusou a França de travar as negociações para baixar as tarifas por motivos políticos, não econômicos.
"É que os agricultores franceses têm muito peso na época da eleição e, aí, muita gente tem medo de mexer com isso na época de eleição", disse, em discurso de improviso a acadêmicos, empresários e parlamentares em um hotel de Brasília. A França, que vive um clima de instabilidade social, tem eleições previstas para o primeiro semestre de 2007.
A UE (União Européia) se recusa a baixar as tarifas de importação de produtos agrícolas aos patamares que Brasil e Estados Unidos querem. O comissário de Comércio da UE , Peter Mandelson, já classificou de "inaceitáveis" os pedidos dos dois países.
"Vocês estão vendo a negociação que está acontecendo na OMC [Organização Mundial do Comércio], estão vendo o preâmbulo da Rodada Doha, estão percebendo que, por mais democráticos que sejam os países europeus, na hora de discutir subsídio agrícola...", afirmou o presidente.
A França, completou Lula, "tem muita dificuldade de tomar uma decisão favorável, mesmo a flexibilização dos Estados Unidos, a França não acompanha, porque, na verdade, o problema não é mais econômico, é político".
A próxima reunião da Rodada Doha acontece em Hong Kong no mês que vem. Devido ao grau dos impasses, muitos analistas já prevêem um fracasso nas negociações. Um dos riscos é de que o impasse nas negociações leve a mudanças "cosméticas", em que números expressivos poderão mascarar a pouca abertura dos mercados dos ricos aos produtos agrícolas dos mais pobres.
Na semana que passou, os atritos entre a UE e Brasil atingiram um nível recorde, com acusações de ambos os lados. No sábado, numa reunião em Roma entre Mandelson e o chanceler brasileiro, Celso Amorim, as tensões diminuíram, mas um eventual acordo permaneceu distante.
"Foi uma conversa muito boa, muito ampla, muita sincera, mas ninguém mudou de posição", disse Amorim depois da reunião.
No geral, a UE propõe um corte médio de 39% nas tarifas para a importação de produtos agrícolas, mas o Brasil pede uma redução de ao menos 54%. Existem ainda vários pontos que dificultam a negociação, como a proteção de algumas áreas em especial.
Ontem, Lula acusou a União Européia de, com essa decisão, perpetuar a pobreza no mundo. "Nós achamos que, sem isso [maior abertura comercial], nós vamos continuar sem permitir que os países mais pobres possam dar um salto de qualidade num comércio mundial mais igual, mais justo, o que permita que os países, sobretudo os africanos, consigam sair do estado de pobreza a que foram submetidos nesses últimos 400 anos."
Antes, Lula enviara uma mensagem ao primeiro-ministro britânico, Tony Blair, elogiando seu discurso pedindo abertura mais ambiciosa. Blair havia conclamado EUA e UE a irem "mais longe nas negociações de agricultura". Para Lula, "o momento é crucial".


Texto Anterior: O vaivém das commodities
Próximo Texto: Países pobres não cederão em Hong Kong, diz indiano
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.