São Paulo, domingo, 18 de abril de 2004

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ALÉM DO IBOVESPA

Empresas menores distribuem lucros para atrair investidores, mas papéis têm baixa liqüidez e risco maior

Ação de segunda linha paga mais dividendo

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Olhar além do Ibovespa pode ser uma boa oportunidade de ganho para quem aplica em ações. No balanço de 2003, quem investiu em ações consideradas de segunda linha teve uma boa surpresa: foram esses os papéis que deram os melhores retornos em termos de dividendos.
Um estudo feito pela consultoria Economática mostra que, das 15 empresas que tiveram o melhor "dividend yield" em 2003, apenas 3 pertenciam ao Ibovespa (índice que reúne as 54 ações mais negociadas na Bolsa).
O "dividend yield" é um índice que representa o total de dividendos e juros sobre capital pagos por uma empresa em determinado período, dividido pela cotação da ação.
Os dividendos são recursos pagos para o detentor de uma ação em determinado período.
Porém, advertem analistas do mercado financeiro, ganho passado não é segurança de ganho futuro. Ou seja, uma ação que teve bom retorno em um ano pode ser mau negócio em outro período.
Os destaques em termos de "dividend yield" no ano passado foram: Banrisul (28,26%), Banese (22,57%), Coelce (22,34%) e Eternit (21,25%). Todas essas ações não pertencem ao Ibovespa e, portanto, têm pouca liqüidez (volume de negócios).
"É importante lembrar que baixa liqüidez representa aumento de risco. Se o investidor precisar vender rapidamente um papel desses, poderá encontrar dificuldades", avalia Luiz Antonio Vaz das Neves, diretor da corretora Planner.
As empresas que negociam ações na Bolsa são obrigadas por lei a pagar, no mínimo, 25% de seu lucro líquido em dividendos.
Os especialistas dizem que o ideal é mesclar os critérios de bons pagamentos de dividendos e de liqüidez. Ou seja, escolher as ações que distribuem bons dividendos e com um volume de negócios razoável.
O critério de escolher uma ação só pelo retorno com dividendos não é recomendado pela maioria dos analistas.
Álvaro Bandeira, diretor da corretora Ágora Senior, afirma que investidores o procuraram recentemente para montar uma carteira tendo como critério principalmente o potencial retorno com dividendos. "Mas é perigoso montar uma carteira baseado nesse critério. E se, no ano seguinte, a empresa não tiver lucros expressivos e passar a pagar menos dividendos?", questiona.

Motivos
Alguns fatores são apontados por gestores para explicar o fato de papéis de empresas de segunda linha terem registrado melhor retorno (em termos de pagamentos de dividendos) que os do Ibovespa em 2003. O principal deles é a menor necessidade que as grandes empresas têm de investir.
Analistas também afirmam que o alto pagamento de dividendos em determinado período pode ser uma forma de uma empresa chamar a atenção de potenciais investidores, já que suas ações têm menor repercussão no mercado financeiro. Em comparação a países latino-americanos, o "dividend yield" da Bovespa em 2003 (3,28%) ficou abaixo do de Bolsas de países como Peru (4,64%), Colômbia (4,59%) e Venezuela (4,42%).
Mas, comprovando que esse tipo de retorno se altera muito de ano a ano, em 2001 a Bovespa havia ficado por esse critério à frente desses outros mercados acionários. Naquele ano, a Bolsa de SP teve "dividend yield" de 7,30%, enquanto a Bolsa peruana registrou 4,64%, a colombiana, 6,63%, e a venezuelana, 6,83%.


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