São Paulo, domingo, 18 de abril de 2004

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O ATAQUE

Para tucano, cresceram gastos, juros e impostos

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Brasil deve crescer 3,5% neste ano, mas isso será quase nada para a economia deslanchar. Como houve deterioração em 2003, o país ficará mais ou menos no mesmo lugar, diz o economista José Roberto Afonso, um dos principais analistas do PSDB (oposição ao governo).
Afonso produz análises semanais reservadas para municiar os políticos da sigla no debate com o governo Lula. Em sua nota do início deste mês, fez uma análise a respeito do desempenho da economia em 2003. Seus argumentos básicos são:
1) impostos: "A carga tributária subiu o equivalente a 0,2 ponto percentual do PIB. Na prática, porém, para quem paga regularmente seus tributos, isto é, quando excluídos os recolhimentos extraordinários da arrecadação total, houve um aumento de carga da ordem de um ponto percentual do produto em 2003".
2) gastos: "Nunca o Tesouro Nacional gastou tanto -28,5% do PIB em 2003, contra 25,2% em 2002, que já era o maior patamar desde 1998. Ou seja, o governo Lula elevou a despesa federal em 3,3 pontos percentuais do PIB em 2003".
3) juros: apesar do recuo gradual das taxas, "nunca o Tesouro Nacional gastou tanto com juros. Isso explica a elevação da despesa total. Em 2003, o Tesouro pagou 7,5% do PIB em juros -antes, o maior gasto havia sido de 4,9% do PIB em 1998/ 1999, por conta da crise da maxidesvalorização do real".
4) ajuste fiscal: "O Tesouro teve um déficit nominal de 4,9% do PIB em 2003, quase quatro vezes mais do que teve em 2002, de 1,3% do PIB, e muito acima dos anos anteriores. Com todo superávit primário gerado, ele foi insuficiente para arcar com a brutal carga de juros. Se o déficit aumentou, não houve ajuste -o que o governo pode alegar é que poderia ter sido muito pior o efeito sobre as contas fiscais de sua própria política monetária".
Para apresentar sua análise, Afonso usou números oficiais divulgados recentemente pelo governo sobre o desempenho da economia no ano passado. "Em 2004, se se confirmar o Orçamento, a carga tributária vai aumentar ainda mais", disse o economista à Folha.
Segundo Afonso, a receita para a economia não é algo que fuja das recomendações ortodoxas clássicas -como cortar ainda mais as despesas. "Mas o que ajudaria mesmo o governo seria ter um diagnóstico mais realista da situação", afirma. O governo também deveria radicalizar com medidas que aumentassem ainda mais as exportações. "Acumular reservas é fundamental para diminuir o quanto for possível a dívida cambial."
O economista tucano acredita que o país crescerá 3,5% neste ano, como prevê o governo. "Mas esse é um percentual modesto", afirma. (FR)


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