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SALTO NO ESCURO
Linha destinada a distribuidoras para compensar perdas com alta do dólar em 2002 deve passar de R$ 1,9 bi
Auxílio às elétricas deve superar previsão
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
O BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e
Social) já liberou R$ 1,89 bilhão
em recursos do Tesouro Nacional
para compensar distribuidoras de
energia por não terem repassado
integralmente a variação do dólar
para as tarifas de 2003.
Quando lançou a linha de crédito no início de 2003, o Ministério
de Minas e Energia havia previsto
liberar R$ 1,9 bilhão às elétricas.
No entanto, como ainda restam
duas empresas habilitadas a tomar o financiamento, o programa
receberá mais recursos.
O ministério informou, por intermédio de sua assessoria de imprensa, que o valor de R$ 1,9 bilhão era apenas uma estimativa
preliminar e que não faltará dinheiro para as distribuidoras que
ainda não receberam o empréstimo. O ministério não informou,
porém, quanto falta destinar às
companhias.
Boa parte do dinheiro, segundo
analistas do setor, foi usado pelas
empresas para abater dívidas, o
que ajudou a melhorar o resultado das elétricas no ano passado.
Depois de amargar prejuízos em
2002, as companhias voltaram ao
azul em 2003.
Segundo o BNDES, 23 distribuidoras já tiveram acesso ao crédito
-o número considera empréstimos aprovados ou contratados.
Quando ele foi lançado, no início
de 2003, a previsão era atender 25
empresas que distribuem energia
de Itaipu.
Com a disparada do dólar em
2002, haveria uma explosão tarifária em 2003, já que uma parcela
dos reajustes é atrelada à moeda
norte-americana. O motivo é que
a energia de Itaipu é cotada em
dólares. Receoso com o impacto
dos aumentos na inflação, o governo, na época, negociou os empréstimos como contrapartida ao
não-repasse da alta da moeda.
De acordo com o BNDES, as
maiores tomadoras de recursos
foram a AES-Eletropaulo, cuja
controladora (a norte-americana
AES) estava inadimplente com o
banco até o final do ano passado,
e a estatal mineira Cemig. Os empréstimos foram de R$ 445,4 milhões e de R$ 322,2 milhões, respectivamente.
Dívida menor
Dados da consultoria Economática revelam que a dívida bruta
do setor caiu de R$ 57,8 bilhões no
final de 2002 para R$ 44,9 bilhões
em 2003. O recuo de um ano para
o outro foi de 22,4%. O levantamento abrange 24 companhias de
energia elétrica de capital aberto
-nem todas receberam recursos
do Tesouro Nacional.
Apesar de o dinheiro do Tesouro ter ajudado, a razão principal
para a redução do endividamento
foi a queda do dólar (18% em
2003), segundo a Economática.
Cerca de 70% das dívidas do setor
são atreladas à moeda norte-americana.
O recuo do dólar e o aumento
da receita com a venda de energia
fizeram o setor ter um lucro de R$
3,7 bilhões em 2003. Em 2002, as
elétricas haviam registrado um
prejuízo de R$ 11,5 bilhões. Mesmo num ano em que a economia
do país não cresceu, o faturamento das elétricas com a venda de
energia subiu 5,5% -de R$ 45,3
bilhões para R$ 47,8 bilhões.
Contribuição
Para o analista especializado em
energia André Segadilha, do banco Brascan, os empréstimos repassados pelo BNDES foram "um
dos componentes" que permitiram que as distribuidoras reduzissem seus débitos.
"O fator mais importante para a
diminuição da dívida foi mesmo
o câmbio, embora as empresas tenham usado o dinheiro do Tesouro para abater dívidas, o que favoreceu o resultado do setor em
2003", disse Segadilha.
Menos endividadas, as companhias puderam voltar ao azul no
ano passado.
Fernando Exel, presidente da
Economática, afirmou que "é
provável que as empresas tenham
usado o dinheiro" para diminuir
suas dívidas.
Ele disse ainda que o menor endividamento e o crescimento da
receita permitiram que as empresas do segmento saíssem da situação "de quase insolvência" em
que se encontravam em 2003. "O
fato é que a situação hoje é bem
mais confortável", avalia.
Exel afirmou que o aumento da
receita das empresas num ano em
que o PIB não cresceu -houve
queda de 0,2% em 2003- é "algo
muito positivo". Segadilha disse
esperar lucros maiores em 2004.
Dois são os motivos: expansão do
faturamento (em reais) das empresas em cerca de 20% e a expectativa de que o dólar estável não
vá pressionar o endividamento
do setor.
Em volume de energia comercializada (em megawatts), Segadilha prevê uma expansão de 4,5%
neste ano -um ponto percentual
a mais do que a estimativa de
crescimento do PIB.
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