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ARTIGO
É hora de dar fim à farra dos juros baixos
FLOYD NORRIS
DO "NEW YORK TIMES"
Alan Greenspan levou a
melhor sobre seus críticos. O
único teste que resta é determinar
se ele conseguirá reconduzir as taxas de juros a um nível normal
sem causar dor excessiva. Infelizmente para o presidente do Federal Reserve (banco central dos
EUA), os mercados talvez não estejam dispostos a lhe conceder o
prazo de que ele gostaria de dispor para executar a tarefa.
No final dos anos 90, Greenspan
ignorou a bolha das ações de tecnologia. Em 96, resmungou alguma coisa sobre a "exuberância irracional", mas logo mudou de
idéia e passou a elogiar a nova
economia. Quando a loucura chegou ao pico, em 2000, citava, com
alegria, projeções absurdas dos
analistas de Wall Street.
Quatro anos passados, o medo
da deflação e de uma desaceleração prolongada foi derrotado
completamente. Assim, por que
os investidores não estão comemorando? Por que indícios de
uma economia em florescimento
prejudicariam as commodities?
Uma resposta é que o Fed manteve as taxas de juros tão baixas
por tanto tempo que um volume
considerável de especulação lastreada por dívidas se acumulou
no chamado "comércio de carga",
que leva esse nome porque os lucros esperados são mais que suficientes para carregar o custo dos
empréstimos tomados para financiar a transação.
Isso é especialmente aplicável
aos títulos públicos, mas vale também para ações, operações de
câmbio e commodities. Os bancos e os fundos de hedge parecem
estar envolvidos em um grande
volume de transações de carga.
Os bons números econômicos
lembraram os operadores de que
os juros têm de subir um dia. Os
investidores endividados parecem estar reduzindo suas posições em todos os mercados, do
cobre ao câmbio.
O relatório sobre a inflação indicou que a alta nos preços das
commodities começa, finalmente, a ser repassada. A inflação
mais alta vinha ocorrendo em
áreas não sujeitas à concorrência
internacional. Mas, agora, os preços estão crescendo até mesmo
em áreas onde estavam em queda
até recentemente.
Discursos de diretores do Fed
desconsideraram a inflação, e será
interessante verificar se isso começará a mudar. "Eles vão enfrentar um sério problema de credibilidade, se não reconhecerem
que existe mais inflação do que
esperavam", diz Roger Kubarych,
economista do HBV Group.
Ao manter taxas inferiores à inflação, Greenspan sustentou a
economia, mesmo que isso acarretasse o risco de estimular a especulação. Parte do aumento nos
preços do cobre se deve à demanda crescente. Mas outra parte se
relaciona à especulação.
De maneira semelhante, a busca
por melhores rendimentos permitiu que empresas e países com
históricos dúbios de crédito captassem dinheiro a baixo custo.
Uma taxa de 2,5%, bem acima do
1% atual, pode se provar razoável.
Isso não acontecerá rapidamente,
mas crescem as especulações de
que o Fed terá de começar a elevar
os juros antes de novembro.
É preciso que o Fed comece a alterar as expectativas para que as
transações especulativas possam
ser liqüidadas sem causar danos.
"O último truque que Alan
Greenspan terá de executar será
elevar a taxa sem que, com isso, as
pessoas tenham de deixar de viver
felizes para sempre", diz Robert
Barbera, economista-chefe da
corretora ITG/Hoenig.
Tradução de Paulo Migliacci
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