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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
Deflação nos EUA e recessão na UE deprimem expectativas
GILSON SCHWARTZ
ARTICULISTA DA FOLHA
O banco central dos Estados Unidos já admitiu o
risco de deflação no país. Em
abril, os preços pagos pelos consumidores norte-americanos tiveram a maior queda em 19 meses. E apesar dos juros em recorde de baixa, caiu o dinamismo
da construção civil.
O problema de fundo é a estagnação dos investimentos. Ou
seja, por trás da queda nos preços está a sombra da retração
econômica.
Alguns economistas temem
uma espiral deflacionária. Em
tese, quando os preços caem os
consumidores aumentam seus
gastos. Mas também é possível
que a incerteza frente ao futuro
impeça um aumento das compras. Nesse caso, a redução de
preços leva não a uma liquidação de estoques mas a uma queda na rentabilidade das empresas. Elas cortam o investimento
e a produção, confirmando os
temores dos consumidores. O
círculo vicioso termina em recessão.
A União Européia também sofre do mal maior: perda de dinamismo. É o que impede França e
Alemanha de cumprirem as metas de ajuste fiscal que supostamente lastreariam o euro.
Como as metas não são cumpridas, o Banco Central Europeu reluta em reduzir os juros.
Ao manter a taxa de juros, as autoridades reforçam a tendência
recessiva.
Surge assim mais um círculo
vicioso: a debilidade econômica
inviabiliza as metas de ajuste fiscal (cai a arrecadação de impostos) e os juros altos debilitam
ainda mais a economia, tornando ainda mais difícil o cumprimento das metas fiscais.
Surge assim uma perversa simetria entre círculos viciosos
nas duas áreas econômicas onde
ainda há esperança de evitar o
pior, já que no Japão (e, agora,
na China) o cenário também é
deprimente. As respostas oferecidas pelas autoridades econômicas nos Estados Unidos, na
União Européia e na Ásia estão
longe do consenso entre políticos e economistas.
Estados em desequilíbrio
Os economistas observam de
modo detalhado as oscilações de
juros, câmbio e finanças públicas em todos os países. Falta em
seus campos de visão, no entanto, um diagnóstico da crise mais
ampla que abala a própria capacidade de ação dos Estados.
Juros, câmbio e contas públicas nada mais são que manifestações da força relativa dos Estados. Mas os economistas observam apenas os números da economia.
O mundo entrou numa crise
do sistema internacional de Estados da qual as manifestações
econômicas são apenas a ponta
visível do problema.
A queda do Muro de Berlim e
o fim da Guerra Fria colocaram
as relações internacionais e a
economia mundial em trajetórias de consolidação apenas
aparente da democracia representativa e da economia de mercado.
O sistema de regulação entre
Estados, que parecia rumar para
um apogeu multilateral marcado por cúpulas globais, entrou
em colapso. O estresse aumentou ainda mais com a ruptura do
pacto entre Estados Unidos e
União Européia em torno do
controle sobre o Oriente Médio
e as suas fontes de energia.
As redes terroristas globais, as
redes financeiras igualmente
mundializadas e os movimentos
da sociedade civil internacional
mostraram que o poder dos Estados Nacionais está em questão
(para os interessados, estou
coordenando o curso on-line
"Terra em Transe", em http://www.cidade.usp.br/educar2003/terra2.php). Nesse
contexto, falar em câmbio e juros é apenas arranhar a superfície dos problemas.
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