|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Valorização em excesso é "convite à crise", diz economista chileno
DA REPORTAGEM LOCAL
"A forte apreciação de uma
moeda é um convite à crise financeira". A frase é do economista
chileno Ricardo French-Davis,
um dos pais do modelo de controle de capital que vigorou no
Chile entre 1991 e 1998.
Economia pequena fortemente
dependente de exportações, o
Chile não podia, segundo French-Davis, receber fluxos incontroláveis de capital porque isso levaria
à valorização excessiva de sua
moeda. O economista -que é
hoje o principal assessor da Cepal
(Comissão Econômica para a
América Latina e o Caribe) no
Chile e professor da Universidade
de Santiago- diz que isso ameaçaria a competitividade das commodities exportadas pelo país. Ele
é autor do livro "Reforming the
Reforms in Latin America Macroeconomics, Trade, Finance".
Essa foi a causa da adoção de
um controle sobre quase todo o
fluxo de capital que ingressasse
no Chile. Um percentual do investimento ficava depositado no
banco central por um ano. Depois
disso, os recursos eram devolvidos. A alíquota de depósito variou
de 10% a 30%. Hoje, depois da
forte redução de fluxos de capitais
nos últimos anos, está reduzida a
zero, embora o mecanismo para
cobrança ainda exista.
French-Davis foi economista-chefe do BC chileno entre 1990 e
1992 e fez seu PHD na Universidade de Chicago, reduto de famosos
economistas ortodoxos. Conta
com orgulho que no encontro de
ex-alunos, Michael Mussa, ex-economista-chefe do FMI, elogiou quatro vezes o controle de
capital chileno.
(EF)
Folha - Alguns críticos dizem que
a redução de investimentos resultante dos controles de capital limitou o crescimento econômico do
Chile. O senhor concorda?
Ricardo French-Davis - Isso é pura, mas pura, ideologia absolutamente inconsistente com a realidade. Como alguém pode dizer isso se o Chile, entre 1991 e 1998, teve o maior ingresso de investimento estrangeiro direto da sua
história? O Chile teve o maior volume de investimentos domésticos de sua história. E teve a maior
taxa de crescimento econômico.
Folha - Quais são esses dados?
French-Davis - O volume de investimento estrangeiro direto
anual foi de cerca de 5% do PIB e
os investimentos totais chegaram
a 28% do PIB. Na época da liberdade de capitais no governo Pinochet (Augusto Pinochet, ditador
chileno que governou o país entre
1973 e 1990), esse percentual era
dez pontos percentuais menor.
Isso explica porque no período
de Pinochet o crescimento médio
foi de 2,9% ao ano. Foram anos de
muita instabilidade em que o PIB
disparava ou despencava. Já entre
1990 e 1998, o crescimento foi
muito mais estável e atingiu uma
média de 7% ao ano.
Folha - A moeda brasileira já se
apreciou 20% neste ano, principalmente por conta da entrada de investimentos de curto prazo. O governo deveria intervir no mercado?
French-Davis - De forma geral, se
um governo observa que a taxa de
câmbio está se valorizando muito,
deve ser muito cuidadoso. Nesse
caso, acho que os bancos centrais
devem intervir. A forte apreciação
cambial é um convite para crises
financeiras no futuro.
Texto Anterior: Experiências anteriores causam divergências entre especialistas Próximo Texto: Real forte favorece o governo e as empresas endividadas em dólar Índice
|