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EMERGENTES
Brasil se junta a Rússia, Índia e China em grupo de grandes economias promissoras, mas ainda perde no ritmo de expansão
País cresce abaixo da média de outras "baleias"
CÍNTIA CARDOSO
ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
Brasil, Rússia, Índia e China formam um grupo que compartilha
apelidos, como "baleias" e "Brics"
(sigla formada pela inicial dos nomes), e diagnósticos analíticos de
que ultrapassarão muitas economias desenvolvidas no futuro.
Mas, por enquanto, o Brasil parece estar sendo deixado para trás
por seus pares. A economia do
país deve crescer 3,5% neste ano,
metade da média da expansão
projetada para o resto do grupo.
Esse descompasso tem motivado um debate intenso entre economistas. A grande discussão,
que ainda está longe de um consenso, é se o Brasil deveria seguir
o rumo de outros países que
-como Índia e China- perseguiram uma estratégia específica
de desenvolvimento.
Para alguns analisas, inclusive, o
país caminha, quase que acidentalmente, na direção das demais
"baleias". China, Índia e Rússia
devem crescer, respectivamente,
8,5%, 6,8% e 6% neste ano, segundo projeções do FMI (Fundo Monetário Internacional). Boa parte
dessas altas expansões pode ser
explicada, segundo analistas, pelo
forte desempenho das exportações nesses países.
"A lição que o Brasil poderia
aprender com esses países é que
há um mundo lá fora que pode
beneficiá-lo. O Brasil ainda aproveita muito timidamente o aumento da demanda mundial", diz
Antonio Manfredini, professor da
Fundação Getúlio Vargas (SP).
Para Carlos Geraldo Langoni,
ex-presidente do Banco Central e
diretor do Centro de Estudos
Mundiais da FGV-RJ, a China
usou a abertura da economia como estratégia clara de crescimento. O Brasil, segundo ele, até caminha nessa direção agora, mas chegou a perder muito tempo. "O
Brasil começou, como esses outros países, um processo de desregulamentação, mas fez isso sem
disciplina fiscal e desprezou o setor exportador", avalia Langoni.
"Na década de 90, o Brasil perdeu o bonde e fez uma integração
às avessas. O investimento direto
estrangeiro que entrou aqui foi
mais por conta da privatização
das empresas", argumenta o professor Luiz Gonzaga Belluzzo.
Para ele, China e Índia "não têm
restrições consideráveis do lado
fiscal e monetário", o que significa
taxas de juros baixas e oferta de
crédito maior para investimentos.
Em termos de reservas internacionais, o Brasil também ainda
perde muito para as demais "baleias". A expressão foi cunhada
em oposição a "tigres asiáticos".
Os "tigres" representam países
pequenos com dinâmica de crescimento baseada em exportações.
Já as "baleias" têm grandes extensões territoriais, amplos mercados internos e que tendem a se
mover de modo mais lento.
Ritmo
Segundo Júlio Gomes de Almeida, diretor do Iedi (Instituto de
Estudos para o Desenvolvimento
Industrial), países como Rússia,
Índia e China optaram por uma
estratégia agressiva de acumulação de reservas internacionais a
fim de manter suas moedas desvalorizadas e reduzir a vulnerabilidade externa de suas economias.
O Banco Central brasileiro chegou a ensaiar um movimento forte de compras de dólares em 2003,
mas perdeu o ritmo quando as
condições externas se tornaram
menos favoráveis neste ano.
De toda forma, as reservas brasileiras ainda estão muito aquém
das registradas pelos outros três
"Brics". Segundo a revista "The
Economist", as reservas de Rússia, Índia e China são de, respectivamente, US$ 81,5 bilhões, US$
114,1 bilhões e US$ 444,4 bilhões.
Já as brasileiras -descontados os
recursos emprestados pelo
FMI- somam US$ 25 bilhões.
Do contra
Há, porém, quem desdenhe das
taxas de crescimento dos outros
"Brics". "O Brasil não tem nada a
aprender com esses países, que
são muito pobres. Não se pode
comparar países que estão saindo
do século 17 e caminhando para
século 18, como Índia e China,
com um país moderno como o
Brasil", disse à Folha Kenneth Rogoff, conceituado professor de
Harvard e ex-diretor do Departamento de Pesquisas do FMI.
Outra razão para o ritmo acelerado de crescimento das "baleias"
é estrutural. "Em economias com
população de renda muito baixa,
há mais potencial para aumentar
a renda per capita mais rapidamente", diz Manfredini.
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