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ANÁLISE
BC "queimou" reservas, mas não foi em vão
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Banco Central gastou, ao longo de julho e do início de agosto,
cerca de US$ 2,3 bilhões das reservas líquidas internacionais -a fatia do caixa em moeda forte do
governo que pode ser usada quase
sem restrições.
A maior parte desse dinheiro foi
empregada pelo BC para intervir
no mercado de câmbio, com vendas de dólar (papel-moeda) à vista. O restante, basicamente, serviu
para recomprar títulos da dívida
externa.
Durante esse mesmo período,
apesar das intervenções, a cotação
do dólar disparou. A curva da
moeda e a das reservas brutas (o
BC não divulga dia-a-dia a posição das reservas líquidas) têm se
comportado de maneira quase
que inversamente proporcional. Enquanto o
dólar sobe, as reservas diminuem.
A pergunta que se faz, então, é: o
BC está torrando as reservas inutilmente?
A resposta é não. É claro que há
riscos de o nível das reservas ficar
muito baixo e mesmo assim o dólar não recuar para um valor inferior a R$ 3. Mas, se o BC não fizesse as intervenções, provavelmente
a taxa de câmbio estaria muito
mais elevada. Não dá para estimar
a que nível poderia chegar. Contudo não seria absurdo supor que
ultrapassaria os R$ 4, pois mesmo
com as intervenções foi a R$ 3,50.
Em linhas gerais, o problema do
câmbio hoje é a falta de liquidez
no mercado, ou seja, a quase inexistência de dólares disponíveis
na praça. Como o momento é de
incerteza (tanto de natureza interna -eleições- quanto externa
-o fraco crescimento da economia mundial e as fraudes contábeis nas empresas americanas),
quem tem dólar dificilmente quer
vender.
Há algum envio de dinheiro para fora, mas não é isso que tem
puxado a cotação da moeda. Bancos e empresas têm de honrar dívidas no exterior. Contudo não há
oferta de linhas de crédito na banca internacional para o país (justamente pelas incertezas citadas
anteriormente).
Não restam então alternativas
aos devedores senão comprar dólares à vista no mercado e remetê-los aos credores. Como não há
oferta da moeda no mercado, a
cotação do dólar sobe. Assim, o
BC precisa realmente irrigar o
mercado, com vendas de dólares
à vista, para suprir pelo menos
parte dessa carência.
Reservas líquidas e brutas
As reservas líquidas são o caixa
do BC em moeda estrangeira sem
considerar os empréstimos do
FMI (Fundo Monetário Internacional) -a soma de tudo compõe
as reservas brutas. Em final de junho, as reservas líquidas estavam
em US$ 25,881 bilhões. Na semana retrasada, segundo o presidente do BC, Armínio Fraga, haviam
caído para cerca de US$ 23,5 bilhões. Pelo último acordo fechado
com o FMI, as reservas líquidas
não podem ficar abaixo de US$ 5
bilhões.
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