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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
Brasil reage à crise criando políticas tecnológicas
GILSON SCHWARTZ
ARTICULISTA DA FOLHA
Na política e na economia o Brasil pode estar
dando sinais de atraso e retrocesso, mas no campo cada vez
mais estratégico das políticas
tecnológicas há sinais de que o
país, finalmente, acordou.
Não se trata apenas do megapacote de políticas científicas e
tecnológicas preparado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia
e apresentado na semana passada pelo presidente FHC. O setor
privado se organiza para dar
conta de desafios conhecidos
por nomes complicados como
"inteligência competitiva" e
"gestão do conhecimento". Em
16 de setembro começa o KM
Brasil, evento que combina as
duas áreas num só movimento
(www.kmbrasil.com/).
A academia também se reorganizou e opera sob modelos cada vez mais inovadores. A Fapesp, que chocou positivamente
o país e o mundo colocando o
Brasil no mapa mundial das
pesquisas genéticas, pretende
seguir agora o mesmo modelo
de desenvolvimento científico e
tecnológico em rede num grande programa para o desenvolvimento da internet avançada no
Estado de São Paulo.
Só parecem fora dessa onda os
candidatos presidenciais. Concentram-se na agenda mais urgente, macroeconômica, o que
talvez seja inevitável num momento tão dramático de crise.
Apelam para promessas de reformas sociais, outro tema inevitável num país que bate recordes de desigualdade. Ninguém
se manifesta sobre o que talvez
seja a condição para que a economia escape, no longo prazo,
da dependência financeira e dos
círculos viciosos da pobreza,
que giram em torno da ignorância e da má escolaridade.
Ao menos o governo FHC, em
seu momento final, lança o que
poderá ser a matriz de políticas
industriais, comerciais e tecnológicas que induzam a inovação
e a competitividade de empresas
e cadeias setoriais nos próximos
anos. O tema tende a ficar fora
da campanha eleitoral, mas
prognósticos sobre o futuro da
balança comercial, um dos nós
górdios da atual crise cambial,
dependem de uma avaliação da
capacidade de inovação permanente na economia brasileira.
As medidas anunciadas na semana passada são inovadoras,
até porque talvez pela primeira
vez uma política de desenvolvimento é anunciada depois, não
antes da criação de mecanismos
de financiamento.
Nos últimos anos, aos poucos
foram desenhados novos fundos setoriais em áreas estratégicas como petróleo e telecomunicações. O pacote federal garante
maior proteção às verbas da
área, mas antes disso foram definidas e implementadas formas
inovadoras de financiamento
associadas ao desempenho dos
principais setores econômicos
privatizados na era FHC.
O desafio crucial a partir de
agora já não é conseguir verbas
ou reclamar da falta de políticas.
Os obstáculos estão na cultura
das empresas e das universidades, nas dificuldades de atração
de projetos de pesquisa de empresas multinacionais ao país e
de articulação de políticas regionais, estaduais e até municipais
que sejam capazes de refletir o
espírito da política federal e dar
bom destino aos recursos.
A guerra fiscal, uma das feridas abertas pela ausência de reforma tributária, é talvez a principal barreira do sistema econômico no caminho para políticas
subnacionais decentes.
Bate-papo sobre inovação
Para os interessados em discutir as perspectivas da inovação
no país, estarei mediando no
próximo dia 22, às 17h, um bate-papo no UOL com o diretor-executivo do IPT (Instituto de
Pesquisas Tecnológicas de São
Paulo), Guilherme Ary Plonski.
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