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Preço da terra avança 17% em 12 meses
Alta de commodities, escassez de áreas e grau de investimento elevam valor do hectare; média nacional bate recorde
Preço de R$ 4.287 representa crescimento de
41% nos últimos 36 meses;
produção de grãos puxa
cotações em áreas agrícolas
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
A forte alta das commodities,
a procura por alimentos, a escassez de áreas agricultáveis no
mundo e, mais recentemente, a
condição de "investment grade" obtida pelo Brasil estão
aquecendo os preços de terras
brasileiras.
No bimestre maio-junho, o
preço médio atingiu R$ 4.287
por hectare, 17% a mais do que
há um ano e 41% de aumento
nos últimos 36 meses. É o que
mostra o estudo "Análise de
Mercado de Terras", do Instituto FNP.
Dessa conjugação de fatores
que impulsionam os preços da
terra para cima, as commodities são o principal motivo de
pressão, segundo Jacqueline
Dettmann Bierhals, analista
responsável pelo mercado de
terras na AgraFNP.
As maiores altas ocorrem,
portanto, em áreas destinadas à
produção de grãos.
Bierhals diz que, com pagamento indexado em sacas de
soja, a terra destinada a grãos
não pára de subir. "O número
de sacas pedido por hectare
continua aumentando e já atinge a estratosférica marca de
600 sacas por hectare."
Outro fator de pressão nos
preços da terra são os investimentos estrangeiros. Por ora,
como ainda não saiu a anunciada revisão na legislação que regulamenta a compra de terras
por investidores externos, a
compra ocorre em associações
com capital nacional.
Ainda é difícil determinar volume e localização desses investimentos estrangeiros, segundo a analista. Oeste baiano,
Piauí, Maranhão e, em menor
escala, Mato Grosso têm sido,
no entanto, as regiões preferidas do capital estrangeiro.
Muitos desses investimentos
são de grupos ligados à agricultura e vêm ao Brasil em busca
de locais para a produção de
grãos. Outros, no entanto, adquirem a terra para esperar valorização, diz Bierhals.
"Mesmo com o novo patamar
de preços e o real fortalecido, as
terras no Brasil ainda são mais
baratas que em outros países, e
isso deve continuar atraindo o
olhar dos estrangeiros", afirma
a analista da AgraFNP.
A procura maior tem se caracterizado por glebas de terras
de grande tamanho, localizadas
principalmente em regiões de
expansão de fronteiras agrícolas, diz Bierhals.
Investidores estrangeiros e
nacionais continuam na busca
de ativos reais seguros, já que
há um aumento nos riscos nos
investimentos no mercado financeiro, segundo ela.
Para a analista da AgraFNP, a
entrada de empresários que
não são tradicionais do agronegócio pode trazer uma mudança estrutural no setor produtivo. "Eles [novos empresários]
tendem a trazer técnicas mais
modernas de administração e
intensificam o processo de profissionalização do setor."
Pastagens
Terras de pastagens, após
perderem espaço para grãos e
cana-de-açúcar, começam a recuperar preços devido ao novo
ciclo na pecuária. Depois de
muitos anos amargando baixa
remuneração no boi, os pecuaristas se desfizeram de parte do
rebanho, principalmente das
matrizes.
O rebanho diminuiu e está
havendo uma escassez de animais prontos para o abate. Com
a falta de gado, o preço da arroba saiu de R$ 50 para R$ 90 nos
últimos meses, elevando os
preços das terras de pastagens.
Para Bierhals, "esse tipo de
terra deve ficar ainda mais disputado nos próximos anos".
A pressão por terras destinadas à produção de cana-de-açúcar, que avançou sobre áreas de
pastagens e de grãos nos últimos anos, principalmente no
centro-sul, está diminuindo. A
rápida expansão do setor sucroalcooleiro gerou queda nos
preços da cana-de-açúcar e
provocou uma acomodação na
procura por terras.
O ganho de competitividade
no setor e os elevados preços do
petróleo indicam que, no médio prazo, as condições devem
continuar favoráveis para esse
setor, que gera açúcar, álcool e
energia, diz Bierhals.
Apesar dos problemas da
economia mundial, principalmente nos Estados Unidos, o
momento ainda é favorável para investimento em terras no
Brasil, segundo a analista.
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