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Dólar perde o encanto para os investidores
GIULIANO GUANDALINI
DA REDAÇÃO
O dólar já não é mais o mesmo.
A moeda passa por um declínio
considerado até aqui desejável e
suave, mas que, para muitos, corre o risco de se transformar em
um tombo brusco, que mergulharia os mercados mundiais no
caos. De resto, o dólar poderia ver
abalado seu papel de reserva de
valor e referência internacional.
Desde o início do ano passado, o
dólar já perdeu quase 20% de seu
valor, na comparação com uma
cesta de moedas dos principais
parceiros comerciais dos EUA, segundo o banco de investimentos
Merrill Lynch. Para os analistas
do banco, a moeda cairá mais 10%
até o final do ano que vem.
A fragilização do dólar ocorre
porque os investidores internacionais reduziram drasticamente
seu apetite por ativos denominados na moeda norte-americana,
sejam títulos ou ações. A desvalorização só não é maior porque
países asiáticos manipulam o
câmbio, comprando dólares e enfraquecendo suas moedas, para
não perder competitividade.
"A demanda privada por títulos
em dólares está em queda. O que
sustenta a moeda é o setor público", diz Gustavo Loyola, sócio da
consultoria Tendências e ex-presidente do Banco Central. Por "setor público" leia-se BCs asiáticos.
"O setor privado não quer aumentar sua exposição ao dólar."
Como, pelo menos no médio
prazo, os EUA continuarão a sentir os efeitos dos déficits gêmeos
(nas contas externas e internas), a
tendência é o dólar perder ainda
mais valor. Assim os ativos em
dólar devem se desvalorizar, o
que os torna menos atraentes. Daí
a fuga dos investidores.
A desvalorização do dólar torna
mais caros os produtos asiáticos.
Assim, países como o Japão e a
China artificialmente mantêm
suas moedas depreciadas, comprando dólares.
Segundo Martin Wolf, colunista
do "Financial Times", as reservas
mundiais em moeda estrangeira
cresceram US$ 870 bilhões entre o
final de 1999 e junho deste ano.
Do total, US$ 665 bilhões foram
acumulados na Ásia.
Até o início do ano passado, os
EUA conseguiam financiar seu
enorme déficit comercial graças
ao maciço ingresso de investimentos externos. Mas essa fonte
de recursos secou, e o euro já atrai
mais investidores do que o dólar.
Segundo o BIS (Banco de Compensações Internacionais), a
emissão de títulos denominados
em euro alcançou a marca recorde de 226,3 bilhões no primeiro
trimestre do ano. No mesmo período, as emissões em dólares ficaram em US$ 95,6 bilhões.
No ano passado, quando o dólar
começou a cair, já havia ocorrido
uma supremacia da moeda européia ( 523,4 bilhões contra
US$ 421,8 bilhões). Em 2001, o dólar ainda captava mais (US$ 651,9
bilhões ante 597,3 bilhões).
"Tanto à esquerda como à direita, há quem acredite que o dólar
pode desabar", afirma Antonio
Carlos Macedo e Silva, do Instituto de Economia da Unicamp.
Uma queda acentuada, como
disse o economista Paul Krugman
em sua coluna no "New York Times", poderia lançar os EUA no
caos. As taxas de juros teriam que
ir às alturas para que o governo
evitasse a total seca de crédito.
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