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ANÁLISE
Governo Bush banca jogo arriscado
DO "FINANCIAL TIMES"
A recente queda no
dólar deveria ser causa
de satisfação pelo início, já
tardio, do processo de recuperação do equilíbrio na
economia mundial. Mas,
embora a queda da moeda
estivesse sendo esperada há
muito, a forma pela qual está
acontecendo oferece certos
motivos para preocupação.
Os EUA têm sido o único
propulsor de crescimento na
economia mundial há tempo demais. A melhor solução seria que o dólar caísse
gradualmente, em um processo acompanhado pela recuperação do crescimento
gerado internamente na Europa e na Ásia.
Mas o que temos visto é
mais ação em termos cambiais do que em termos de
crescimento. A referência a
taxas de câmbio flexíveis durante o mais recente encontro do G7, em Dubai, foi encarada de maneira geral como uma inovação e deflagrou a mais recente onda de
vendas do dólar.
Embora os japoneses tenham testado exaustivamente a idéia fracassada de
que manipulações do câmbio servem como substituto
adequado para a reforma
econômica, a pressão de alta
do iene em relação ao dólar
não vem ajudando a alimentar as pequenas brasas de
crescimento no país, deflagrando uma recuperação
sustentada de sua combalida
economia.
Acima de tudo, o déficit
cada vez maior da conta corrente norte-americana, propelido por um déficit fiscal
claramente descontrolado,
faz da queda do dólar um
negócio arriscado.
A alegação do governo
americano de que o déficit
em conta corrente pouco
importa e reflete apenas o
esmagador desejo dos investidores de controlar ativos
de alto rendimento e denominados em dólar sempre
pareceu pouco convincente.
Esses investidores são
muitas vezes bancos centrais
asiáticos envolvidos em manipulações cambiais, e não
administradores de fundos
atrás de retornos. E eles estão financiando as consequências fiscais dos irresponsáveis cortes de impostos do governo Bush, e não
um surto de investimentos
nos negócios.
A necessidade de reduzir o
déficit em conta corrente
vem prejudicando o dólar.
Os preços dos títulos do Tesouro norte-americano caíram na semana passada,
junto com o dólar. Se a queda da moeda ganhar ímpeto,
pode transformar um realinhamento benigno em uma
perigosa espiral de queda de
cotações cambiais e de preços de ativos.
É verdade que os preços
dos ativos vêm demonstrando certa resistência. A insistência do Federal Reserve
(banco central dos EUA) em
dizer que manterá baixas as
taxas de juros está ajudando
a sustentar os papéis do Tesouro, pelo menos os de prazo mais curto. E as ações
norte-americanas, a despeito de avaliações implausivelmente elevadas, até agora se
provaram relativamente
imunes à queda do dólar.
Mas os equilíbrios precários nos mercados financeiros terminam por desabar
subitamente. Caso isso ocorra, os perigos envolvidos em
uma trama do governo norte-americano para causar a
queda do dólar, enquanto
toma cada vez mais dólares
emprestados a investidores
relutantes, vão se tornar tristemente claros.
Tradução de Paulo Migliacci
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