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Ex-cortadora de cana espera até três meses por consulta médica
DA REPORTAGEM LOCAL
Corsina Alves de Castro, 57, que
trabalhou 12 anos colhendo cana
e está há cinco aposentada por invalidez, busca hoje atendimento
no posto de Guariba para enfrentar os problemas de saúde.
"Carregar tanto peso durante
esses anos todos me trouxe problemas de coluna. Mas temos de
esperar dois ou três meses para fazer uma consulta", diz a trabalhadora, que, quando empregada, tinha convênio médico pago, em
parte, por uma usina da região.
"Descontavam do meu salário
R$ 20 de convênio médico. Acho
que era metade do preço total",
diz a aposentada, que informou
desconhecer a lei que determina o
repasse de 1% do preço da tonelada de cana para assistência social.
Por uma jornada que variava
entre 8 e 12 horas, dependendo da
quantidade de cana, ela disse que
recebia R$ 160. "Gasto parte da
aposentadoria [R$ 500] com remédios. Não sobra muito para
ajudar a sustentar as 15 pessoas
que moram aqui em casa."
A Feraesp (Federação dos Empregados Rurais Assalariados do
Estado de São Paulo), que representa cerca de 500 mil trabalhadores rurais, informou que pelo menos 2 milhões de pessoas são diretamente afetadas pelo não-repasse. "Os familiares desses empregados e a população também deixam de ser assistidos em programas sociais. Não é interesse só do
trabalhador rural", afirma Elio
Neves, presidente da federação.
No ano passado, a federação pediu a intervenção do Ministério
do Trabalho para resolver o assunto. Em uma reunião na DRT
(Delegacia Regional do Trabalho)
de São Paulo, com trabalhadores e
empregadores em setembro de
2003, "se propôs a criação de uma
comissão interministerial, mas
não houve avanço na questão".
"O que ocorreu é muito grave.
Houve um acerto entre os usineiros para não pagar esse 1% e diante disso qual foi a atitude do governo Lula? Há uma lei federal
que não está sendo cumprida. O
governo não pode ignorar isso",
afirma Neves.
Para a Feraesp, os cortadores de
cana pertencem a uma categoria
das mais prejudicadas por condições insalubres de trabalho. "Eles
têm inúmeros problemas de pulmão em função da fuligem da cana, ganham piso de R$ 300 e sofrem vários acidentes de trabalho.
Para ganhar R$ 2 por dia, eles têm
de colher uma tonelada de cana."
Antônio Wilton Santos, 30, trabalha oito horas por dia e chega a
cortar 200 metros de cana a R$
0,12 o metro. "Isso em um dia
bom e se o terreno do corte não tiver pedras". Mantido esse ritmo,
consegue chegar a R$ 550 por
mês. Desse total, Santos vê descontado todo mês em seu salário
R$ 49,10 para o convênio médico.
"Se dependesse do SUS [Sistema
Única de Saúde], estaria perdido.
O único inconveniente é o preço.
Se a usina em que trabalho não
descontasse esse dinheiro, já ajudava no leite dos filhos."
O cortador Antônio Carlos Pereira Souza, 31, acha "justo" o trabalhador ter um convênio, mas
"desde que seja de sua livre escolha". "É um absurdo ser obrigado
a pagar o INSS e ainda ter de pagar convênio particular. Pagamos
duas vezes para ter atendimento."
(CR e FF)
Colaborou Joel Silva, repórter-fotográfico da Folha Ribeirão
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