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REAL VALORIZADO
Permissão para que bancos comprem mais moeda dos EUA e rolagem menor da dívida cambial não surtem efeito
Dólar ainda não reagiu a medidas do BC
MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Analistas de bancos e corretoras
concordam que as últimas medidas tomadas pelo Banco Central
terão efeito muito pequeno sobre
o câmbio. No mais, sobram discordâncias.
No dia 2 deste mês, quando o
câmbio atingiu R$ 2,818, a menor
taxa do ano, o Banco Central reduziu o volume de capital exigido
para os bancos operarem com dólar, o que permitiria que comprassem quantidades maiores da
moeda.
Além disso, o BC tem diminuído o percentual de rolagem da dívida cambial.
Enquanto uma parcela de economistas, principalmente de bancos, defende uma intervenção
mais firme do BC para conter a
apreciação do real, outro grupo
argumenta que a fase do dólar em
queda é transitória.
Para uns, a desvalorização do
câmbio, que já atingiu 20% neste
ano e fechou cotado na sexta-feira
a R$ 2,889, com alta de 0,66%, incomoda porque prejudicaria as
exportações.
Para outros, os exportadores estariam garantidos e o problema
seria a vulnerabilidade externa, o
risco do grande passivo em dólar.
E há quem afirme que nada disso deveria preocupar porque a valorização da moeda brasileira resultaria da melhora de humor dos
mercados em relação ao país.
A medida do BC, dizem analistas, apenas sinalizaria que o câmbio começa a incomodar. "O BC
aumentou um limite que nem estava sendo usado", diz Alexandre
Póvoa, do banco Modal.
"Esse limite não será usado porque quem comprou dólar perdeu
dinheiro. As apostas hoje são
muito pequenas; ninguém quer
ficar com posição comprada porque a volatilidade é muito grande", afirma Alexandre Schwartzman, economista do Unibanco.
"O BC dá mais corda para se enforcar", diz um operador.
Para Schwartzman, "o câmbio
vai voltar a andar. Essa grande liquidez é transitória. A entrada de
recursos deve cair em meses".
João Mascolo, da Foresee Asset
Management, diz que o fluxo não
deve cair, principalmente se as reformas saírem e que é natural que
a moeda se valorize com a queda
do risco. "O país vai aprender a
conviver com o dólar mais alto."
Dólar barato
Segundo modelo econométrico
usado pelo Unibanco, com o dólar médio real do segundo trimestre deste ano (R$ 2,95), os superávits seriam de aproximadamente
US$ 19 bilhões em 2003 e de US$
14,5 bilhões em 2004.
"Não são nada desastrosos",
conclui Schwartzman, para quem
"o grau de controle no câmbio
flutuante é baixíssimo".
Nem a redução da proporção da
rolagem de títulos cambiais -do
lote de US$ 2,7 bilhões que venceu
na quinta-feira, foram rolados
apenas 52% -ajudou a valorizar
a moeda estrangeira.
"O BC deve reduzir as rolagens
agressivamente. Mais do que pelas exportações, para se livrar desse passivo em dólar, que fez um
estrago no ano passado. Para que
não ocorra de novo, o BC vai ofertar menos hedge [proteção contra a flutuação cambial]", diz
Schwartzman.
Analistas defendem que o BC
abandone a excessiva cautela e
aproveite o ambiente favorável.
"Deve não apenas reduzir
agressivamente a rolagem e melhorar o perfil da dívida, como
também emitir bônus e reforçar
as reservas", diz Póvoa.
Para Mascolo, além de aprovar
as reformas, o governo deveria
emitir mais papéis lá fora, "em vez
de entrar aqui diretamente".
"Isso reduziria os juros aqui. Há
demanda lá fora para trocar dívidas externa e interna por papéis
mais longos. Falta visão de longo
prazo à autoridade monetária."
A receita de compra de dólares
prescrita por muitos economistas
não é unanimidade. "O Banco
Central não deveria comprar dólares", diz Póvoa. "Indicaria piso
para a moeda, inundaria de reais a
economia, agora que acabamos
de escapar de uma séria ameaça
inflacionária."
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