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PRIVATIZAÇÃO
Documento assinado por diretor do banco de SC indica que venda pode não sair, o que contrariaria acordo com o FMI
Governo pode desistir de privatizar o Besc
GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Um documento oficial, assinado por uma autoridade nomeada
pela equipe econômica, afirma
que o governo "cogita" descumprir um compromisso firmado no
acordo com o Fundo Monetário
Internacional: a venda do Besc
(Banco do Estado de Santa Catarina), maior privatização programada para o mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"A privatização do banco foi paralisada, em novembro de 2002,
por decisão de Justiça. Mas há
uma outra e importante razão para que a privatização do Besc se
mantenha em compasso de espera: os novos governantes do Brasil
e de Santa Catarina, eleitos em outubro de 2002, cogitam a hipótese
de mantê-lo como banco público", diz o texto.
Trata-se de uma carta enviada
ao TCU (Tribunal de Contas da
União) em junho, à qual a Folha
teve acesso. O signatário é Nelson
Wedekin, nomeado diretor de
Relações Institucionais do Besc
pelo governo Lula -o banco, antes estadual, foi federalizado em
1999, como parte da renegociação
da dívida catarinense.
Sua afirmação contradiz o ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda), que vem declarando a intenção de vender os quatro bancos remanescentes no programa
de privatização -além do Besc,
avaliado em R$ 520 milhões, o
BEM (do Maranhão), o BEP (do
Piauí) e o BEC (do Ceará).
As atitudes do governo, porém,
parecem dar razão à carta enviada
ao TCU.
Começando pela própria nomeação de Wedekin -um ex-senador do PDT de Santa Catarina e
notório adversário da privatização do Besc. O site do governo catarinense (www.sc.gov.br) informa que o nome foi indicado a Palocci pelo governador Luiz Henrique (PMDB), líder do lobby para
impedir a venda do banco.
"O governador de Santa Catarina obteve mais uma vitória na esfera federal. Após conversa com o
ministro da Fazenda, Antonio Palocci [Filho], o governador catarinense confirmou o nome do ex-senador Nelson Wedekin para
um cargo de diretor no Banco do
Estado de Santa Catarina", relata
um informe de 21 de fevereiro.
O mesmo texto completa: "O
ministro Palocci acatou, sem restrições, a indicação feita pelo governador Luiz Henrique".
Não foi a única nomeação política feita pelo governo no Besc, até
então administrado por técnicos
apontados pelo Banco Central.
Para a presidência do banco, foi
escolhido Eurides Mescolotto,
coordenador da campanha de Lula no Estado e ex-secretário-geral
do PT catarinense, todo ele mobilizado na campanha contra a privatização.
Concurso
Foi uma medida da gestão Mescolotto-Wedekin que chamou a
atenção do TCU para o Besc. Em
maio, o banco anunciou preparativos para um concurso público
destinado a contratar novos funcionários -em número que, dependendo da versão, fica entre
1.200 e 1.400.
O ministro do TCU Marcos Vilaça estranhou o óbvio: por que
um banco destinado à privatização, que lançou até um programa
de demissões incentivadas, pretende contratar funcionários?
A carta de Wedekin ao TCU teve o objetivo, justamente, de defender o concurso, que ainda depende de decisão final da Fazenda. O diretor do banco explica: "O
Besc continua inscrito no Programa de Desestatização, mas a deliberação final (delicada, de altíssimo grau de complexidade e de
efeitos e desdobramentos profundos) certamente ainda demorará
um tempo".
O "altíssimo grau de complexidade" mencionado serve para
descrever o impasse vivido pelo
governo, que concordou -se é
que havia alternativa- em manter no acordo com o FMI a promessa de prosseguir na privatização dos bancos ex-estaduais.
Em outubro do ano passado,
num comício em Florianópolis, a
promessa de Lula foi outra: ao lado do hoje governador Luiz Henrique, um dos primeiros peemedebistas a apoiar a campanha petista, disse que iria rever a privatização do Besc.
O governo foi salvo do dilema,
temporariamente, pelo Supremo
Tribunal Federal, que em dezembro do ano passado suspendeu o
leilão do banco.
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