São Paulo, sábado, 21 de junho de 2008

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VarigLog fez remessa para evitar bloqueio

Companhia remeteu US$ 85 mi à Suíça a fim de impedir bloqueio judicial para pagamento de dívidas da Varig, dizem sócios brasileiros

Fundo Matlin Patterson nega que soubesse do envio do dinheiro e afirma que transferência foi tentativa de desvio de recursos


MARINA GAZZONI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A VarigLog enviou US$ 85 milhões a uma conta no banco suíço Lloyds no dia 24 de maio de 2007 para evitar bloqueios judiciais dos recursos para o pagamento de débitos da Varig. A informação está na defesa dos advogados dos sócios brasileiros da VarigLog (Marco Antonio Audi, Marcos Haftel e Luiz Eduardo Gallo) no processo de dissolução societária que movem contra seu sócio, o fundo norte-americano Matlin Patterson, na 17ª Vara Cível de São Paulo. Na época da transferência, a empresa era administrada pelos sócios brasileiros.
Segundo o advogado dos brasileiros, Marcello Panella, eles decidiram, com o Matlin, transferir o dinheiro referente a uma parcela do valor recebido pela venda da Varig para a Gol após a penhora judicial de recursos da VarigLog para pagar a credores da velha Varig. A transferência dos recursos foi a medida utilizada para evitar novas cobranças e garantir caixa para a empresa, disse.
O Matlin nega que soubesse do envio do dinheiro da Va- rigLog para o exterior. Segundo o fundo, a transferência foi uma tentativa de desvio de recursos pelos sócios brasileiros.
Na época, o Matlin defendeu que os recursos obtidos com a venda da Varig fossem usados para pagar pelos empréstimos que o fundo fez à Varig e à Va- rigLog por meio de contratos de mútuos. Já os brasileiros dizem que esses contratos só deveriam ser cobrados em 2011.
A VarigLog arrematou a Varig em leilão no dia 20 de julho de 2006 por US$ 24 milhões. A companhia de transporte de cargas vendeu a Varig à Gol no dia 28 de março do ano passado por US$ 320 milhões.

Caminho do dinheiro
Antes de chegar à Suíça, os valores passaram por outras duas contas em nome da Va- rigLog no exterior, conforme extratos bancários obtidos pela Folha. A VarigLog recebeu R$ 138,2 milhões em uma conta no Bradesco no dia 12 de abril de 2007 pelo pagamento de uma parcela da venda da Varig à Gol.
No mesmo dia, US$ 92,3 milhões foram transferidos para o Bank of America, em Miami. Dois dias depois, a mesma quantia foi enviada a uma conta no Itaú BBA em Nassau, capital das Bahamas. A última transferência foi para o banco Lloyds, na Suíça -US$ 85 milhões.
O Matlin acusa os brasileiros de desviarem a diferença entre os recursos transferidos em contas no exterior. Já os brasileiros afirmam que US$ 2 milhões foram usados na compra de uma aeronave Airbus, e US$ 5,5 milhões, gastos em despesas operacionais.
Segundo Panella, todas as movimentações são legais e foram registradas no Banco Central. Questionado sobre por que o dinheiro foi movimentado em três contas estrangeiras, Panella explica que foi para dificultar o resgate em caso de penhora judicial on-line.
"Supondo que o dinheiro tenha saído do Brasil e ido para Miami. Se qualquer sindicato fosse em cima do Banco Central para saber onde está o dinheiro, e ele dissesse que está em Miami, o sindicato poderia buscar o bloqueio disso na conta de Miami. Se você passar por alguns lugares, fica mais difícil fazer a penhora sobre esses recursos. É uma forma de criar barreiras para a penhora on-line", afirmou.

Dinheiro bloqueado
Por decisão do juiz José Paulo Magano, da 17ª Vara Cível de São Paulo, os US$ 85 milhões que estão na conta da Suíça da VarigLog estão bloqueados. O juiz determinou que os recursos sejam utilizados apenas para recuperar a VarigLog, e não para pagar pelos empréstimos concedidos pelo fundo à empresa em contratos de mútuo.
Para utilizar os recursos, o Matlin, atual controlador da VarigLog, precisa pedir a autorização de um Comitê de Fiscalização nomeado pelo juiz.
O fundo recorreu da decisão do juiz no Tribunal de Justiça, visando obter a livre gestão dos recursos. Os desembargadores votaram pela manutenção da decisão nesta semana.


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