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"A gente vive como macaco", diz colhedor
DA REPORTAGEM LOCAL
"A gente é como macaco.
Come no galho, porque não
pode parar. Se pára, não ganha para a comida do dia seguinte", diz Reginaldo Pinheiro, 28, um dos 160 colhedores da fazenda Fittipaldi que decidiram cruzar os
braços, após descobrirem
que suas carteiras estavam
com contrato irregular.
"Tenho de carregar 70 caixas [de 27 quilos" por dia para tirar R$ 300 por mês. Descontando o aluguel, sobram
R$ 180. E, na hora de fazer a
compra do mês, fico sabendo que o tempo que trabalhamos na fazenda não vale
nada. O dono do mercado
disse que o carimbo na carteira dizia que nosso contrato estava rompido. Fomos
enganados", diz Pinheiro.
Claudio Aparecido da Silva, 32, conta que a surpresa
foi a mesma quando chegou
à Caixa Econômica. "Fui tirar o saldo do FGTS, e a gerente me falou que estava
com contrato cancelado."
A jornada de trabalho de
Pinheiro, Silva e dos colhedores é longa, chega a 12 horas, e o dia começa cedo, às
5h30. Moradores de Boa Esperança do Sul (301 km de
SP), viajam de ônibus para a
fazenda em Araraquara todos os dias. "A rotina é a
mesma. Tem de pisar na espuma de química, mergulhar a água no barril com o
produto e ir depressinha para o pé [de laranja"", diz José
Aparecido de Oliveira, 26,
que trabalha na "Fiti" -como chamam a fazenda.
Os colhedores não sabem
ao certo quanto ganham por
caixa, nem o que significam
os descontos nos contracheques. O exame médico de
admissão, conta Márcio Rodrigues, 24, foi feito em uma
sala na casa do "turmeiro"
-uma espécie de supervisor das turmas de trabalho.
"O médico era um dos empreiteiros. Tiraram a pressão
e estava tudo certo." Médico
mesmo, nunca viram.
"Era bom o trabalho quando o registro era da fazenda.
Hoje, com esse condomínio,
não tem benefício. Água, comida, tem de trazer tudo de
casa", diz Maria Tereza Tuschi, 35, enquanto come uma
marmita.
(CR e FF)
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