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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
MIT procura o elo entre técnica e desenvolvimento
GILSON SCHWARTZ
ARTICULISTA DA FOLHA
Projetos voltados para
usos sociais e politicamente
legítimos ganham espaço em escala global desde o momento
em que estourou a bolha especulativa nos setores de alta tecnologia. A cena é dominada por
temas como inclusão social,
emancipação e, principalmente,
desenvolvimento.
O MIT (Massachusetts Institute of Technology), um dos
mais venerados templos da
ciência e da tecnologia, volta-se
cada vez mais para a busca do
elo perdido entre tecnologia e
desenvolvimento econômico e
social.
A questão tornou-se há três
semanas o ponto de partida para uma agenda de pesquisa e debates que vai desembocar no
Brasil. Reunida na Índia, uma
rede de designers, engenheiros,
economistas, sociólogos e antropólogos ligada ao Media Lab,
do MIT, concluiu que o futuro
da tecnologia depende cada vez
mais da existência de projetos
de desenvolvimento.
A rede já é integrada por escritórios do Media Lab na União
Européia (Irlanda) e Ásia (Índia). Está em pauta a criação de
um Media Lab na América Latina, provavelmente no Brasil
(mais informações sobre o projeto em www.thinkcycle.org).
O maior desafio está na redefinição da tecnologia a partir de
desafios escolhidos de modo legítimo pela própria sociedade.
Na Índia, por exemplo, um dos
maiores projetos de aplicação
das tecnologias de informação é
a informatização de todos os registros de propriedade de terras
do país. A grande dificuldade está na definição do que seja um
desafio "legítimo". Isso exige
uma sofisticação política que a
maioria das organizações está
longe de alcançar.
Falou-se muito, nos últimos
anos, de "organizações que
aprendem". Na prática, a tese foi
traduzida na criação de universidades corporativas, programas em larga escala de educação
a distância para funcionários e
numa febre de MBAs (literalmente, programas para formas
"mestres em administração de
negócios"). A dimensão política
escapa totalmente a essa definição utilitarista de aprendizado.
Para chegar a essa dimensão
política, cada organização deve
tornar-se mais porosa e aberta à
crítica e à negociação de seus
projetos. Tanto nos EUA quanto
na Índia essa abertura depende
da interação entre iniciativa privada, governo, academia e
ONGs. No limite, a partir de cada projeto local ou regional desenham-se micropolíticas de desenvolvimento. Outro sucesso
indiano (e com destaque em
Bangladesh) é a multiplicação
de programas de microcrédito.
No Brasil, ainda estamos na
pré-história desse processo.
Agências com boas intenções
não faltam (do BNDES ao Sebrae, passando por agências regionais de desenvolvimento e algumas instituições financeiras
estaduais que sobreviveram ao
ciclo de privatizações). Mas falta
articulação entre elas e, principalmente, um projeto capaz de
politizar as suas estratégias,
aliando novas formas de financiamento.
Há poucos dias, aliás, a imprensa noticiou um acordo entre o presidente FHC e Lula para
fazer a sucessão no Sebrae (instituição marcada por disputas políticas duvidosas e muitas críticas ao seu modo de atuação). Seria bastante oportuno, passada a
fase de negociação de cargos entre, que houvesse algum debate
sobre a legitimidade dessas mega-agências sustentadas por dinheiro público.
Ao menos é o que se faz nos
principais centros tecnológicos
do mundo. Entre a técnica e o
desenvolvimento, as organizações "que aprendem" precisam
antes de tudo praticar mais democracia.
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