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BARRIL DE PÓLVORA
Futuro das reservas alimenta divergências entre EUA e membros do Conselho de Segurança da ONU
Petróleo iraquiano já mobiliza potências
ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
Embora as motivações políticas
e ideológicas se destaquem nessa
guerra, os interesses econômicos
em jogo não são nada desprezíveis. Contratos bilionários de petróleo, negociações comerciais,
dívidas do governo iraquiano
com outros países e o futuro das
reservas da commodity apelidada
de "ouro preto" no Iraque alimentam as divergências entre
países com direito a veto no Conselho de Segurança da ONU.
De um lado, estão França, Rússia e China. Além de boas relações
históricas com o Iraque, esses três
países sedimentaram caros relacionamentos econômicos com o
governo de Saddam Hussein.
Principalmente nos últimos três
anos, o Iraque negociou com empresas desses e de outros países
contratos para a exploração de
campos de petróleo do país, cujos
custos estimados somam expressivos US$ 38 bilhões.
Companhias petrolíferas da
Rússia respondem, sozinhas ou
em consórcios, por US$ 19,45 bilhões do total dos contratos. A
única empresa francesa envolvida
nesses negócios, a TotalFinaElf,
tem dois contratos com o governo
iraquiano de US$ 7,4 bilhões.
No caso da China, a única empresa envolvida é a estatal CNPC
(China National Petroleum Company), que também assinou dois
contratos com o Iraque no valor
de US$ 2,5 bilhões.
Segundo Gerald Butt, editor da
revista "Mees" -uma das publicações mais respeitadas do setor
de energia-, os contratos prevêem que as empresas invistam
em exploração e desenvolvimento das reservas. A produção seria
dividida com o governo iraquiano. O economista William Nordhaus, da Universidade Yale, diz
em estudo sobre as consequências econômicas da guerra que as
condições desses contratos, que
incluem até participação acionária, são bastante favoráveis às empresas estrangeiras.
Mas, longe de ser uma benesse
de Saddam Hussein, as aparentes
concessões estavam mais para
moeda de troca por apoio político
no cenário mundial.
Esses contratos não haviam entrado em vigor antes do início da
guerra por causa do embargo comercial ao Iraque. Irritado com a
demora no início das operações,
Saddam, inclusive, suspendeu
contratos de empresas russas que
vinham tentando reatá-los.
A questão inquietante é sobre
qual será o destino desses contratos na provável era pós-Saddam,
em que o país tende a ficar sob a
influência norte-americana.
No caso da Rússia, a expectativa
de que a produção de petróleo no
Iraque dispare alguns anos depois
da guerra, forçando os preços internacionais para baixo, também
faz o país temer o conflito.
Segundo Michael Renner, do
WorldWatch Institute, a economia russa é muito dependente da
exportação de petróleo. O alto
custo de produção da commodity
na Rússia aliado a uma possível
redução dos preços representa
uma ameaça à renda do país.
No extremo oposto, estão os
EUA, que parecem ter motivos
econômicos de sobra para querer
a saída de Saddam. As reservas de
petróleo do Irasomam 112,5 bilhões de barris, aos quais podem
ser somados outros 220 bilhões de
barris, segundo dados da Energy
Information Agency, agência de
petróleo norte-americana.
Essas reservas poderiam satisfazer as necessidades de importação dos EUA (cerca de 4 bilhões de barris por ano) por mais de oito décadas, o que alimenta as acusações de que o governo de George W. Bush quer dominar a indústria de petróleo iraquiana.
"Além da influência política que
quer ter no Oriente Médio, o governo Bush está pensando no
enorme consumo de petróleo
norte-americano", afirma Márcio
Scalercio, professor de história
contemporânea das faculdades
Cândido Mendes e PUC, especializado em conflitos militares.
No caso do Reino Unido, duas
multinacionais -Shell e Pacific- têm contratos com o Iraque
no valor de US$ 3,25 bilhões. Há
ainda as preocupações do governo britânico sobre a carência de
fontes de energia no país.
Todos esses interesses econômicos que envolvem o Iraque dão
pistas sobre o quão complicadas
serão as negociações pós-guerra.
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