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PÚBLICO E PRIVADO
Empresas americanas disputam fatia na reconstrução do país, um negócio que deve chegar a US$ 100 bi
Começa lobby para contratos no Iraque
JOSHUA CHAFFIN
DO "FINANCIAL TIMES", EM WASHINGTON
Mesmo antes que o estrondo
das armas diminua no Iraque, um
novo ruído provavelmente surgirá no deserto -o do comércio.
Com sua própria economia vacilante, as empresas americanas já
estão de olho nas oportunidades
de negócios no Iraque pós-Saddam Hussein.
Dentro de alguns dias o governo
americano deverá conceder uma
série de contratos que poderão
chegar a US$ 1,5 bilhão para reabilitação de estradas e outras infra-estruturas e para administrar
os portos e aeroportos do Iraque.
Cinco grandes companhias de engenharia e construção dos EUA,
incluindo a Bechtel e a Halliburton, foram solicitadas a apresentar propostas para a tarefa no mês
passado.
O trabalho poderá ser muito
mais lucrativo se oferecer um atalho para desenvolver a indústria
de petróleo iraquiana. Alguns empreiteiros sondaram os lobistas
em Washington pedindo conselhos para entrar no negócio. Um
amplo leque de companhias desejará fornecer de tudo, de telefones
celulares e livros escolares a banheiros portáteis, num projeto de
reconstrução que poderá se equiparar ao Plano Marshall.
"Não é preciso cavar muito fundo para ver quanto dinheiro está
envolvido", disse um lobista de
Washington.
O setor de petróleo do Iraque
exigirá US$ 5 bilhões em investimentos durante três anos para
voltar aos níveis de produção anteriores a 1991, segundo um estudo do Instituto Baker da Universidade Rice. Seriam necessários
US$ 15 bilhões para se atingir os
níveis plenos de produção.
"Existe uma necessidade imediata de reparar essa infra-estrutura", disse Edward Djerejian, diretor do Instituto Baker. "Serão
contratos importantes."
As empresas envolvidas na licitação estão relutantes em comentar o assuntos. Dizem que é impossível estimar quão lucrativo
será o trabalho de reparo sem conhecer a extensão dos danos.
Miragem
É possível que o Iraque venha a
ser apenas uma miragem para os
empresários americanos. O Kuait
não satisfez as expectativas depois
da Guerra do Golfo de 1991.
Na época os custos de reconstrução foram estimados em até
US$ 100 bilhões. Os líderes do país
prometeram dar prioridade às
empresas americanas. O Departamento de Comércio montou um
escritório de ligação especial para
ajudar empresas americanas a entrar no negócio. O ex-secretário
de Estado James Baker e outras altas autoridades voltaram ao deserto para fazer lobby em nome
de companhias como a Enron.
Anos depois, os projetos chegaram a apenas US$ 25 bilhões, e os
EUA ficaram com menos da metade disso. A maior parte foi para
empresas que já tinham ligações
na região. Desta vez os contratos
iniciais deverão ir para companhias americanas, porque a maior
parte da reconstrução será paga
pelo governo dos EUA.
Existem outros motivos para
otimismo entre os executivos
americanos. O Iraque provavelmente será coberto por um grande contingente de tropas aliadas,
eliminando a grande dor de cabeça relativa à segurança.
Ao contrário do Afeganistão, o
Iraque também poderá ter um robusto mercado de consumo. Mais
importante, os poços de petróleo
deverão dar um fluxo de caixa estável para pagar os contratos.
"Não há gente querendo se envolver no Afeganistão ou na Bósnia", disse outro lobista. "Lá não
há recompensa em longo prazo.
As pessoas estão muito mais animadas sobre o Iraque."
Embora possam estar animadas, elas estão tentando conter
seu entusiasmo, pelo menos em
público. Isso é particularmente
verdadeiro diante da ampla suspeita de que Bush está conduzindo a guerra para ajudar seus velhos amigos do setor de petróleo.
O Centro para Política Responsável disse que cinco construtoras
da primeira lista para contratos
de reconstrução doaram US$ 2,8
milhões durante as duas últimas
eleições. O vice-presidente dos
EUA, Dick Cheney, é ex-diretor
da Halliburton, e há ligações entre
o establishment da defesa e o setor privado.
A verdadeira blitz virá agora
que o tiroteio começou. O presidente vai enviar ao Congresso um
pedido de verbas suplementares,
e os lobistas correrão aos deputados. O governo indicou que pedirá até US$ 100 bilhões imediatamente. "Muita gente vai ganhar
dinheiro", concluiu um lobista.
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