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ANÁLISE
Não se engane: perspectivas econômicas continuam sombrias
HAMISH MCRAE
DO "THE INDEPENDENT"
Quase se poderia dizer que o
mundo das finanças prefere
a guerra à incerteza. De repente os
mercados se acalmaram. As ações
subiram acentuadamente. O dólar está em alta ante o euro. O preço do petróleo está caindo. Mais
importante, há sugestões de que a
semana anterior ao ataque teria
visto o fundo desse mercado urso,
que já é o mais duradouro e mais
profundo dos últimos 30 anos.
Mas é claro que permanecem
enormes incertezas. A pergunta
"Haverá guerra?" foi substituída
por "O conflito será rápido e bem-sucedido?".
A resposta implícita dos mercados para essa segunda pergunta
parece ser "Sim". Mas é claro que
os mercados são famosos por entender mal as coisas. Muitos problemas subjacentes da economia
mundial, após a "bolha" do final
dos anos 90, ainda precisam ser
solucionados. A dificuldade é distinguir em que medida os mercados vêm sinalizando sua preocupação sobre o Oriente Médio e em
que medida eles se agitam sobre
preocupações mais gerais, ligadas
ao crescimento e à estabilidade
econômica mundiais.
Os mercados mundiais estão fazendo duas suposições. A primeira é que os aspectos "quentes" da
guerra terminarão em um mês,
no máximo seis semanas. A segunda é que haverá um sucesso
político associado ao combate.
Por exemplo, supõem que as
forças aliadas serão de modo geral
bem-vindas, pois do contrário seria necessária uma operação de
policiamento longa, difícil e talvez
impossível. Eles também supõem
que os regimes vizinhos, especialmente a Arábia Saudita, não serão
desestabilizados pelo sentimento
antiamericano. E, como eles estão
supondo que a guerra será curta,
estimam que a carga financeira
será administrável.
Os mercados também supõem
que o mercado de petróleo vai
cooperar. No entanto, a situação
subjacente de oferta/demanda está mais apertada hoje, e o aumento no preço do petróleo já está encolhendo a renda dos consumidores nos EUA. O consumo americano continua sendo a única
fonte de demanda significativa no
mundo, e essa fonte vem oscilando. Por isso a economia mundial
continua extremamente vulnerável a outro choque do petróleo.
Na verdade os mercados hoje
parecem estar supondo que os
eventos no Oriente Médio se encaminharão para a extremidade
mais favorável da escala possível.
Seria ingênuo não admitir a possibilidade de que sua euforia recente possa ser infundada, assim como seu desespero anterior.
Atividade deprimida
Enquanto isso, continuam os
problemas de longo prazo. Nos
EUA e no Reino Unido, o crescimento foi mantido por um surto
de consumo financiado por empréstimos e pela passagem do setor público do superávit para o
déficit. Em grande parte da Europa continental os consumidores
contiveram os gastos, com a consequência de baixo crescimento e
déficits maiores. No Japão, os
problemas financeiros crescem e
a economia continua tão moribunda quanto antes.
Todos esses aspectos preocupantes da economia mundial
continuarão deprimindo os mercados quando o tiroteio terminar.
Com o tempo, eles serão enfrentados, pois uma das lições mais importantes da história econômica é
que na maioria dos casos as economias se autocuram. Tendo paz,
segurança e ausência de políticas
prejudiciais, elas acabam consertando a si próprias. O perigo é que
o conflito possa minar a capacidade de o mundo se consertar.
E não apenas o conflito. Houve
enormes danos às relações internacionais dentro da Europa e entre alguns países europeus e os
EUA. Parte disso vai transbordar
da política para a economia. A
questão aqui não é apenas se haverá um boicote de produtos
franceses nos EUA ou mesmo se o
investimento internacional vai se
deslocar. É se a ampla suposição
que sustenta a prosperidade pós-Segunda Guerra Mundial -de
que a economia mundial se tornaria cada vez mais integrada- se
manterá. Provavelmente sim,
mas apenas provavelmente. As
disputas levarão algum tempo para ser solucionadas.
Existe uma enorme quantidade
de dúvida sobre o que acontecerá
nas próximas cinco semanas. A
guerra está acontecendo exatamente numa época em que deveríamos estar vendo uma virada no
ciclo econômico.
Sim, existe uma enorme quantidade de ajustes a serem feitos.
Sim, os próximos dois ou três
anos já deveriam ser difíceis. Mas
o conflito precisa ter êxito para
que, no curto prazo, os consumidores possam recuperar a confiança. E ela precisa ter êxito para
que, no médio prazo, os grandes
blocos econômicos possam continuar fazendo negócios e cooperando entre si.
Tradução de Luiz Roberto Gonçalves
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