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Banco recomenda megatroca ao Brasil
MARCIO AITH
DE WASHINGTON
O banco de investimentos Lehman Brothers propôs ao governo
brasileiro reestruturar amigavelmente a dívida interna do país,
"antes que seja tarde demais".
A idéia foi lançada na sexta-feira
como sendo a única alternativa do
governo brasileiro para escapar
do círculo vicioso dos juros altos e
do crescimento da dívida pública.
"O governo tem que negociar
com seus credores locais, de forma secreta e sem declarar moratória unilateral, a redução voluntária nas taxas de juros e a extensão dos prazos de pagamento",
diz o documento, assinado, entre
outros analistas do banco, pelo
brasileiro Paulo Vieira da Cunha.
A proposta leva em consideração três pressupostos básicos: o
risco de uma reestruturação forçada da dívida pública nos próximos dois anos seria de 50%, seja
quem for o próximo presidente; o
maior problema das finanças públicas do governo seria sua dívida
doméstica, que equivale a 72% do
total do passivo público; a dívida
doméstica estaria nas mãos de um
punhado de credores locais dispostos a trocar seus papéis para
não sofrer um calote.
O banco diz que a reestruturação voluntária da dívida interna
seria uma opção obrigatória à
reestruturação da dívida externa
do país -esta sim, segundo a instituição, um desastre.
"Seria um desastre reestruturar
a dívida externa, mas também o
seria não reestruturar a dívida pública doméstica", diz relatório da
Lehman Brothers.
Segundo o banco, essa transação seria simples e atraente a todos os investidores, que, temerosos de um calote, aceitariam uma
perda pactuada com o governo.
"O governo ofereceria trocar todos os instrumentos de dívida
existentes (que são de curto prazo, altamente ilíquidos e indexados a taxas de juros do overnight
ou ao câmbio) por novos instrumentos (com prazos mais longos,
altamente líquidos, indexados ao
IPC e carregando taxas reais de
juros de 7% a 8%)."
Para o banco, a medida acalmaria os mercados externos porque
a alta do risco-país decorre do endividamento público doméstico.
"Se a dívida externa é de apenas
15% do PIB, por que os investidores internacionais estão tão preocupados? O medo é que, se as condições políticas se deteriorarem,
seria mais difícil rolar a duração
da dívida doméstica, que, então,
teria que ser monetizada. Se isso
ocorresse, o câmbio brasileiro se
desvalorizaria, elevando o peso da
dívida externa -daí, a probabilidade de um "default" (calote)."
O banco reconhece que a medida foi tentada sem sucesso na Argentina em 2001, mas acha que ela
daria certo no Brasil. "Felizmente
para o Brasil, o real não está sobrevalorizado, os bancos comerciais não quebrariam com a reestruturação combinada da dívida
doméstica e a fuga de depósitos
seria muito improvável. "Essas
são razões poderosas para que o
Tesouro e o Banco Central considerem a reestruturação doméstica. Antes que seja tarde demais."
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