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Capacidade de ação do BC é limitada
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Mesmo com a liberação de mais
US$ 5 bilhões das reservas líquidas do país, a capacidade do Banco Central para intervir de modo
mais incisivo no câmbio é considerada pequena, pelo menos enquanto o mercado estiver ávido
pela moeda norte-americana.
Segundo cálculos do BBV Banco, se reaplicasse a estratégia de
venda diária de dólares à vista a
uma quantidade predeterminada,
como fez no ano passado, o BC
disporia de US$ 71,6 milhões (pela posição do dia deste mês) por
dia útil até a última revisão do
acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional) no final de
novembro.
Para especialistas ouvidos pela
Folha, o BC não tentaria agora
forçar o mercado para reduzir a
cotação do dólar, o que explicaria
a timidez com que atuou no câmbio até agora. Desde que foi anunciado o pacote de medidas para
acalmar o mercado, na quinta-feira da semana retrasada, o BC fez
três intervenções e, nas duas primeiras, vendeu US$ 70 milhões. O
valor da terceira intervenção será
divulgado na próxima terça-feira.
Há no mercado o consenso de
que os ativos financeiros (títulos
da dívida interna e externa, ações
etc.) estão depreciados demais,
descolados dos fundamentos da
economia, que não seriam tão
ruins a ponto de justificar a explosão das taxas.
A leitura que se faz é que o BC,
em vez de bater de frente, esperaria o mercado "virar" por si próprio, quando, aí sim, seria a hora
de entrar no câmbio de maneira
mais contundente.
No ano passado, auxiliado por
medidas restritivas de oferta de
moeda e de exposição dos bancos
ao risco em dólar, o BC obteve sucesso em sua tática de reverter a
cotação da moeda americana,
que, depois de atingir R$ 2,83 em
setembro -após os ataques terroristas aos Estados Unidos-,
caiu para menos de R$ 2,30 no começo deste ano.
O risco da estratégia do BC é
que, se o mercado não "virar" por
si só, o custo para uma ação de enfrentamento direto ficará cada vez
mais alto com o passar dos dias
-leia-se subida ainda maior do
dólar e depreciação mais acentuada dos ativos financeiros. Ou seja,
o mercado cada vez mais avesso a
refinanciar a dívida pública.
As chances existem
Pode parecer remota a possibilidade de o mercado, numa turbulência como essa, mudar de direção repentinamente, mas a lógica
financeira e a experiência recente
mostram que não é impossível.
Os especuladores do mercado
de câmbio jogam para ganhar
tanto nos momentos em que a
moeda está barata quanto nos períodos em que está cara. Sempre
há aqueles que julgam que alta do
dólar tenha chegado ao limite.
Passam então a ficar "vendidos"
no mercado futuro de dólar, para
aproveitar a elevada cotação da
moeda. Ou seja, garantem, por
meio de contratos, a venda de dólares em data futura a um preço
preestabelecido. Se o dólar cai, o
ganho é certo.
Quando esse movimento se intensifica no mercado futuro
-mais agentes "vendidos" em
dólar-, a cotação da moeda à
vista tende a acompanhá-lo.
Em julho de 2001, quando
anunciou a venda de US$ 6 bilhões até o final do ano, o que dava US$ 50 milhões diariamente, o
BC foi criticado. Não foram poucos a vociferar que a autoridade
monetária havia cometido erro
crasso, que havia "apresentado as
armas para o inimigo" e que US$
6 bilhões era pouco.
O dólar subiu por muitas semanas, mas, no final do ano, os mesmos especialistas que criticaram a
estratégia insistiam para que o BC
suspendesse a venda diária de dólares, pois o real já havia apreciado demais, o que poderia prejudicar a balança comercial (as mercadorias brasileiras ficariam mais
caras no exterior).
Especialistas, no entanto, avaliam que, diferentemente de 2001,
o BC deve intervir no mercado de
câmbio informalmente, sem
anunciar a venda diária de dólares, pelo menos não agora, pois
seria enfrentar o mercado sem o
poder de fogo necessário.
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