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Expectativa é que salários subam até 3% em 2004 com previsão de inflação menor e expansão da economia
Renda deve crescer após sete anos em queda
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
Após sete anos em queda, a renda do trabalhador deve voltar a
subir em 2004 -entre 2% e 3%
em relação à deste ano-, segundo economistas. Esse crescimento, porém, ainda está longe de repor a perda real dos salários desde
1997, que foi da ordem de 20%.
Para seis economistas consultados pela Folha, a renda do trabalhador vai melhorar porque:
1) A inflação prevista para o ano
que vem -da ordem de 6%- será menor do que a deste ano, estimada em 9%. Isso significa que a
corrosão nos salários será, portanto, menor do que a de 2003.
2) A maioria das categorias de
trabalhadores com maior poder
de negociação conseguiu, neste
segundo semestre, zerar a inflação passada e obter um ganho real
-ainda que pequeno.
3) Essas categorias profissionais
servem de parâmetro para as negociações salariais -isto é, a previsão é que uma massa importante de trabalhadores consiga repor
a inflação neste ano.
"É como se a renda do trabalhador estivesse, ao longo deste ano,
correndo atrás da inflação. No
ano que vem, é o salário que estará à frente da inflação. Por isso, a
renda média do trabalhador em
2004 será maior do que a de
2003", diz Francisco Pessoa Faria,
economista da LCA Consultores.
Pelas suas projeções, a renda
média do trabalhador deve subir
ao redor de 2% em 2004. Para chegar a esse número, ele considera
que a maioria dos trabalhadores
vai repor neste ano pelo menos
50% da inflação passada.
Quem não conseguir repor esse
percentual -uma parcela pequena de trabalhadores, segundo
seus cálculos- vai enfrentar mais
um ano de queda na renda em
2004. "Na média, a renda cresce.
Mas alguns trabalhadores vão ver
a renda crescer mais do que a média. Outros vão ver a renda cair
ainda mais", afirma.
Para mostrar o crescimento na
renda, Pessoa Faria cita um exemplo. Um trabalhador que ganhava
R$ 1.000 em outubro de 2002 chegou em setembro deste ano com
um salário equivalente a R$ 864,
considerando que a inflação no
período foi de 15,7%. O seu salário
médio real no período foi equivalente a R$ 905.
Se esse trabalhador conseguiu
repor a inflação, o seu salário subiu para R$ 1.161 em outubro deste ano. Considerando que a inflação nos 12 meses seguintes deve
bater em 6,5%, o salário cairia para o equivalente a R$ 939 em setembro de 2004. Na média do período, o salário real seria equivalente a R$ 971 -ou 7,3% maior
do que o do ano anterior. Nos
seus cálculos, mesmo se esse trabalhador conseguisse repor somente 65% da inflação no seu salário, teria um ganho real de 2,1%
em 2004.
A queda da inflação não é o único fator considerado pelos economistas para prever aumento da
renda em 2004. A redução das taxas de juros, dizem, deve dar novo
gás ao consumo, como já se verifica em alguns setores. Se o consumo cresce, a produção aumenta, e
as chances de o salário subir são
ainda maiores.
Virada
"O ano de 2004 tem tudo para
dar uma virada no mercado de
trabalho", afirma Lauro Ramos,
economista do Ipea (Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada).
Um dado identificado pelo instituto que indica melhora na renda
e no emprego é que já houve algum aumento da jornada de trabalho. "Hora extra é o primeiro
passo do empresário antes de aumentar a produção." Ramos também prevê aumento de 2% na
renda em 2004.
Na estimativa de José Márcio
Camargo, professor do Departamento de Economia da PUC-RJ, a
renda média do trabalhador deve
crescer 3% no ano que vem. Além
de a inflação ser menor em 2004,
diz, já existe um clima mais favorável para as negociações salariais, que devem se intensificar.
Camargo também prevê aumento da renda por conta de um
crescimento esperado entre 4% e
4,5% do PIB (Produto Interno
Bruto), da retomada da economia
internacional e da expectativa de
que o governo irá tomar medidas
que, indiretamente, promoverão
investimentos em infra-estrutura.
Entre essas medidas estariam a
manutenção de uma política fiscal austera e aprovação da Lei de
Falências.
Adriano Pitoli, da consultoria
Tendências, prevê crescimento de
2,5% na renda em 2004. "A recuperação no emprego e na renda
ocorre de três a seis meses após a
retomada da atividade econômica, que acontece agora", diz.
Fábio Silveira, economista da F
Silveira Consultoria, que prevê
aumento de 3% na renda em
2004, diz que a recuperação da
renda vai dar fôlego à economia.
Para Edgard Pereira, economista
da Unicamp, a expectativa é que a
renda cresça, mas é cedo para fazer estimativas. José Silvestre Prado, economista do Dieese, tem a
mesma avaliação.
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