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BC prevê rombo maior nas contas externas
Expectativa anterior, de US$ 12 bi, foi elevada para US$ 21 bi; se déficit for confirmado, será o pior resultado desde 2001
Principal motivo para alta do déficit é a importação de máquinas e equipamentos feita pelas empresas que estão investindo mais
JULIANA ROCHA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A expectativa de piora do saldo comercial e o aumento das
remessas de lucros e dividendos ao exterior levaram o Banco Central a elevar a projeção
de déficit nas transações correntes para US$ 21 bilhões neste ano. A expectativa anterior
do BC, que revisa as projeções a
cada trimestre, era de déficit de
US$ 12 bilhões nas contas externas. Se for confirmada essa
alta de 75%, será o pior resultado do Brasil desde 2001, quando a conta corrente ficou negativa em US$ 23,2 bilhões.
O chefe do Departamento
Econômico do BC, Altamir Lopes, afirmou que não há motivo
de preocupação porque a instituição acredita que o déficit em
transações correntes será financiado pela entrada de dólares dos investimentos estrangeiros no setor produtivo. Mas
de janeiro a maio, o investimento estrangeiro direto foi de
US$ 14 bilhões, menor que o
déficit acumulado no período,
de US$ 14,7 bilhões. Insuficiente, portanto, para financiar o
rombo nas contas externas.
"No conjunto, as transações
correntes são financiáveis e o
balanço de pagamentos está em
situação saudável", diz Lopes.
As transações correntes são
formadas por balança comercial (exportações menos importações), balança de serviços
(pagamento de juros da dívida
externa, gastos com viagens internacionais, remessas de dividendos ao exterior, entre outros) e transferências unilaterais (dinheiro enviado ao Brasil
por residentes no exterior e vice-versa). O balanço de pagamentos é o resultado das transações correntes, mais a conta
capital e financeira (que inclui
o fluxo de capitais entre o Brasil
e o exterior no setor produtivo
e no mercado financeiro).
Nelson Carneiro, economista-sênior da consultoria Austing Rating, afirma que o BC
ainda é conservador na projeção. Ele prevê déficit de US$ 30
bilhões nas transações correntes neste ano e aposta, ainda,
que o investimento direto não
será suficiente para financiar o
resultado negativo das contas
externas. Mas acredita que os
investimentos estrangeiros no
mercado financeiro, como em
ações e em renda fixa, ajudarão
a fechar essa conta. Além dos
juros altos, o "investment grade" (selo de que é seguro investir no Brasil) torna o país um
investimento atrativo também
para os fundos do exterior.
Por causa do "investment
grade", o BC revisou também a
projeção de investimento estrangeiro em ações brasileiras e
renda fixa, de US$ 12 bilhões
para US$ 25 bilhões.
Importação ajuda
Maurício Oreng, economista
da Itaú Corretora, tem projeção parecida com a do BC para
as transações correntes do ano,
de déficit de US$ 22 bilhões.
Ele alerta que o crescimento
econômico do país está provocando o resultado negativo nas
contas externas, puxado principalmente pelas importações de
máquinas e equipamentos das
empresas que estão investindo.
Apesar da piora nas projeções, o déficit em conta corrente de maio foi o menor do ano,
de US$ 649 milhões. A melhora
no mês foi puxada pela balança
comercial, que teve superávit
de US$ 4,1 bilhões. Lopes lembrou que foi resultado da volta
ao trabalho dos auditores da
Receita Federal e a solução de
outros entraves ao comércio
exterior no ano. "Em junho, a
balança comercial volta ao normal. Nossa projeção para o ano
é de crescimento de 13% nas
exportações e de 30,2% nas importações", disse ele.
Para junho, a expectativa do
BC é registrar déficit de US$ 1,2
bilhão. As remessas de lucros e
dividendos neste mês devem
somar US$ 1,6 bilhão.
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