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Lula teme que inflação contamine eleições
KENNEDY ALENCAR
LETÍCIA SANDER
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva está preocupado com
a possibilidade de eventual descontrole inflacionário contaminar a sua sucessão em 2010.
Teme especialmente uma espécie de troco do PSDB: discurso de que o governo petista poderá deixar uma "herança maldita" na economia, o que poderia afetar a chance do candidato
ou candidatos do campo lulista
à Presidência.
Ontem, o presidente disse
que impedir que a inflação volte é "questão de honra" e que o
governo tomará as medidas necessárias. "Se alguém imagina
que a inflação vai voltar, como
já aconteceu no Brasil, pode tirar o cavalo da chuva, porque
não vai voltar. Nós tomaremos
todas as medidas que forem necessárias para que a gente mantenha a inflação controlada."
Lula criticou empresários,
que estariam se aproveitando
do momento para reajustar
preços. "Lamentavelmente, alguns setores aproveitam o momento em que o povo está consumindo para aumentar preço,
e nós precisamos cuidar disso
com muito carinho", afirmou.
Em conversas reservadas no
mês de maio, Lula chegou a dizer que já podia ver o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso dizendo nas eleições de
2010 que o PT desorganizara a
economia, legando inflação em
alta, crescimento econômico
em queda e risco de crise cambial devido a um real valorizado
na comparação com o dólar.
Essas avaliações levaram o
presidente a elevar o superávit
primário (economia do setor
público para pagar a dívida) e a
suspender a troca do presidente do Banco Central, Henrique
Meirelles. Em abril, quando
Meirelles procurou Lula dizendo que pensava em deixar o
banco em 2009 para disputar o
governo de Goiás, o presidente
disse que talvez fosse melhor
antecipar a mudança. O presidente do BC ficou surpreso e
começou a dizer a pessoas próximas que deixaria o cargo.
No entanto, Meirelles foi salvo por uma crise econômica: a
disparada da inflação naquele
momento levou Lula a desistir
da mudança. O presidente avaliou que a troca poderia contaminar as expectativas de inflação e que poderia indicar algum
relaxamento na intenção de
combater a alta dos preços.
A Folha apurou que havia
duas opções na cabeça de Lula:
indicar o diretor de Normas do
Banco Central, Alexandre
Tombini, que tem se dado melhor com a Fazenda nas discussões econômicas, ou tentar
convencer o relutante economista Luiz Gonzaga Belluzzo a
assumir o posto.
Na hipótese Belluzzo, a Folha apurou que o superávit primário seria elevado para, ao
menos, 4,5% do PIB (Produto
Interno Bruto), como forma de
evitar reação negativa do mercado a um economista visto como desenvolvimentista e descrito por ele próprio como
"keynesiano". Belluzzo defende aperto fiscal até maior nas
reuniões internas do governo,
das quais participa na condição
de conselheiro. Lula já o convidou a assumir postos na área
econômica, mas ele recusou.
Na alternativa Tombini, o governo avalia que o mercado receberia bem. A quase saída de
Meirelles foi muito influenciada pela péssima relação dele
com o ministro da Fazenda,
Guido Mantega. Os dois sempre se estranharam, mas na virada de abril para maio, quando
o Brasil recebeu o grau de investimento, os dois viveram
seu pior momento, segundo
apurou a Folha.
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