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Brasil lidera em aperto contra a inflação
Para analistas, o BC brasileiro aparece como o mais agressivo no combate à alta de preços entre os países emergentes
Memória inflacionária e reforço na credibilidade forçam BC brasileiro a ser mais conservador com
juros, dizem economistas
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
O Banco Central brasileiro
desponta como um dos mais
agressivos do mundo em sua
política de combate à inflação,
segundo analistas. Conservador, o BC de Henrique Meirelles foi um dos primeiros a elevar os juros, ainda em dezembro, quando havia dúvidas se a
inflação mundial era só um soluço ou uma ameaça duradoura. Criticada à época, a receita
foi depois seguida em todo o
mundo, com exceção hoje só do
Federal Reserve [o BC dos
EUA], que ainda está mais
preocupado com a crise.
Para analistas ouvidos pela
Folha, o BC brasileiro teve o
mérito de acertar primeiro no
diagnóstico da doença e de tomar mais cedo ações preventivas. O dividendo é que a expectativa de inflação brasileira ainda está baixa, em 6,53%.
Entre os países emergentes,
só o Chile e o Peru tiveram uma
ação considerada também
agressiva no controle à inflação. Na Ásia, só recentemente
os BCs acordaram para a necessidade de elevar suas taxas. Entre os Brics, Rússia, Índia e China não têm uma taxa básica de
juros, que são definidos na rolagem da dívida pública, que começa a ter taxas mais altas.
O Chile iniciou o aumento
nas taxas em janeiro -de 6%
até 7,25% em julho-, mas a inflação deu uma guinada para
9,5% em 12 meses. O Peru, que
fez quatro elevações de 0,25
ponto, conseguiu segurar a inflação em 5,7%. Na região, perderam o controle a Argentina e
a Venezuela, que não subiram
os juros, e convivem com inflação em 12 meses de 9,3% e de
21%, respectivamente.
"México, Peru, Colômbia e
Chile falavam que o Brasil estava errado e era muito conservador. O que aconteceu é que todos eles perderam a meta de inflação. O Brasil pagou um preço
em dezembro por ser conservador e agora está arrecadando,
enquanto esses países estão aumentando os juros e o impacto
na inflação vai ser sentido só no
ano que vem", disse Vitoria
Saddi, analista da consultoria
americana RGE Monitor.
Para Ricardo Amorim, economista da área de países
emergentes do West LB, o BC
brasileiro tem de ser mais conservador porque sua credibilidade ainda é menor do que a do
chileno, por exemplo. Amorim
lembra que, apesar de a inflação no Chile estar em quase
10%, a expectativa para 12 meses está em 4,5% -a meta é de
3%. Já no Brasil, a meta é de
4,5%, mas a previsão é de
6,53%. "Num regime em que as
expectativas de inflação estão
bem ancoradas, os formadores
de preço acreditam que a inflação futura vá ser igual à meta.
Uma das razões pelas quais o
BC brasileiro tem de ser mais
conservador é que, no Brasil, a
inflação subindo um pouco já
cria uma paúra generalizada.
Não é só memória indexadora.
É uma credibilidade menor",
disse.
Para Jason Vieira, economista da UpTrend, o BC brasileiro
é mais conservador para descer
as taxas do que para subir. Ele
afirma que, enquanto os cortes
nos juros foram de 0,25 ponto,
as altas foram de 0,75 e de 0,5
ponto. "Agora, o BC pode ser
ainda conservador, mas queimando menos cartucho [com
aumento de juro]. Inflação de
alimentos não se resolve com
política monetária. O mundo
precisa se acostumar com taxas
de inflação um pouco mais altas
porque o crescimento é maior.
A capacidade produtiva global
mudou. As metas de inflação
são muito baixas. É um paradigma que precisa ser reavaliado", disse Vieira.
"A diferença é que o Brasil
começou de um nível um pouco
mais alto de juros e vem sendo
um pouco mais agressivo. De
fato, é quem está lidando um
pouco melhor com a questão.
No caso brasileiro, a inflação
demorou mais para se acelerar.
E, nos últimos três meses, tem
se acelerado mais do que a média mundial", disse Amorim.
O economista Marcelo Ribeiro, estrategista da Pentágono
Asset, discorda da tese de que o
BC brasileiro foi mais ágil e
conservador. "Não foi o BC que
foi mais rápido, foi a crise que
chegou aqui depois. O nosso BC
estava atrás da curva no ciclo de
corte de juros. Quando a curva
se inverteu, parece que ele estava na frente dos outros BCs."
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