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SINAL DOS
TEMPOS
Indústrias aumentam jornada sem pagamento extra
Europeus aceitam trabalhar mais para preservar
emprego
WOLFGANG MUNCHAU
RALPH ATKINS
DO "FINANCIAL TIMES"
Os 25 mil empregados da Siemens foram às ruas no início da
semana que passou para protestar
contra as ameaças de seu patrão,
Heinrich von Pierer, de transferir
empregos para locais de menor
custo no exterior.
A fúria começou quando Von
Pierer formulou um plano para
transferir 2.000 empregos de duas
fábricas de celulares e telefones
sem fio da Renânia do Norte-Vestfália, na parte ocidental da
Alemanha, para a Hungria.
Como parte do acordo com os
representantes dos trabalhadores,
no mês passado, a Siemens convencera os empregados a trabalhar 40 horas por semana em vez
das habituais 35 horas, sem pagamento extra, em troca da promessa de não tirar a produção da Alemanha -a semana de 35 horas
não faz parte da lei federal, mas de
acordos com sindicatos.
O aumento da jornada de trabalho nessas duas fábricas da Siemens se mostrou contagioso.
No início do mês, a direção da
DaimlerChrysler anunciou que
quer reformular seus métodos de
trabalho na fábrica da Mercedes
em Baden-Württemberg, tentando obter economias que poderão
chegar a 500 milhões.
Uma cláusula opcional pouco
notada no último acordo salarial
do setor de engenharia possibilitou pela primeira vez acordos no
nível do chão de fábrica sobre as
jornadas de trabalho. A cláusula
pretendia ser uma salvaguarda
para companhias em dificuldades. Mas a Siemens e a DaimlerChrysler não estão em dificuldades financeiras.
Diferentemente, elas puderam
usar a ameaça de transferir a produção para outros países, especialmente aos novos membros da
União Européia, para reduzir custos visando aumentar a competitividade internacional.
Hoje, muitos na Alemanha pedem um aumento da jornada de
trabalho semanal. O diretor do
Instituto de economia Ifo em Munique, Hans-Werner Sinn, diz
que uma semana de trabalho de
42 horas deveria ser a norma.
Klaus Zimmermann, chefe do
instituto DIW em Berlim, de inclinação geralmente esquerdista, sugere o número de 50 horas por semana. Outros, incluindo o premiê
Gerhard Schröder, são a favor de
maior flexibilidade, em vez de um
aumento indiscriminado.
O acordo na Siemens desencadeou um caloroso debate sobre
competitividade e produtividade
na zona euro. Muitos economistas e políticos dizem que a tendência a encurtar as jornadas foi
um dos motivos pelos quais grandes partes da zona do euro vêm
sofrendo um crescimento econômico lento nos últimos dez anos,
especialmente comparado com o
dos Estados Unidos.
O debate atingiu a França. A indústria de peças para carros
Bosch concordou com um acordo
semelhante na semana que passou em sua fábrica perto de Lyon,
onde os funcionários aprovaram
quase por unanimidade trabalhar
uma hora a mais por semana sem
compensação. O acordo parece
burlar a lei francesa, que insiste
em uma semana de 35 horas.
O deputado socialista francês
Jean Le Garrec acusou a Bosch de
"chantagem da terceirização". O
ministro da Economia, Nicolas
Sarkozy, que é aberto a mudanças
na lei das 35 horas, disse: "Trabalhar mais sem ganhar mais é algo
que não vai acontecer na França".
O provável fim da semana de 35
horas nas indústrias francesa e
alemã demonstra que, mesmo
que os políticos não estejam dispostos a mudar, as maiores companhias estão preparadas para
cuidar do assunto à sua maneira.
Tradução de Luiz Roberto
Mendes Gonçalves
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