São Paulo, domingo, 25 de julho de 2004

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VÔO DA ÁGUIA

Receita das subsidiárias dos EUA na América Latina triplica no 1º trimestre deste ano e chega a US$ 1,9 bilhão

Múltis americanas obtêm lucros recordes

CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL

A retomada da economia global e o dólar fraco sustentam o primeiro trimestre de lucros recordes das filiais de multinacionais norte-americanas no mundo.
Nos primeiros três meses deste ano, os lucros globais dessas empresas atingiram US$ 51 bilhões, ante US$ 35,7 bilhões no mesmo período do ano passado. Os dados são do Departamento de Análises Econômicas dos EUA.
Em valores nominais, o total dos lucros acumulados pelas subsidiárias no exterior de empresas americanas supera o registrado no primeiro trimestre de 2000 (US$ 33,5 bilhões), período de grande aquecimento da economia americana e que antecedeu o estouro da "bolha" das ações de tecnologia nos Estados Unidos.
"Perdidos no meio das manchetes sobre o déficit comercial recorde dos EUA em abril [US$ 48,3 bilhões] estão o seguinte: os negócios e os lucros globais nunca foram melhores para as multinacionais americanas", avalia Joseph Quinlan, estrategista-chefe do Banc of America Capital Management, no artigo "Esqueça o déficit comercial dos EUA".
No primeiro trimestre de 2004, as filiais das múltis americanas acumularam lucros recordes em 14 países. Na China, foram US$ 776 milhões no primeiro trimestre deste ano. Ante os mesmos três meses de 2003, houve uma elevação de 52,5%. "Isso mostra que os EUA continuam a acumular déficits comerciais com a China [...], sem, porém, significar que as empresas americanas não estão indo bem no país", diz Quinlan.
Sob esse ângulo, o economista defende que os investidores que financiam a economia americana devem mudar o foco de atenção na hora de fazer avaliações. A sua sugestão é olhar com mais interesse para o desempenho das cerca de 20 mil subsidiárias das companhias americanas pelo mundo em detrimento daquilo que chama de "números deprimentes" dos déficits americanos.
Mas, segundo Michael Carey, economista do Crédit Lyonnais em Nova York, o desempenho das múltis é baseado na depreciação do dólar em relação a moedas como o euro.
Ao converter para dólares os lucros obtidos em filiais instaladas na zona do euro, por exemplo, os valores serão maiores. Prova disso é que os lucros na Europa Ocidental quase dobraram nos primeiros três meses deste ano, passando de US$ 453 milhões no primeiro trimestre de 2003 para US$ 860 milhões nos três primeiros meses deste ano.
Análise semelhante é feita por Eugénio Aléman, da consultoria americana Global Insight. "A maior parte das exportações [das múltis americanas] vai para mercados da zona do euro. Logo, a apreciação da moeda européia e a depreciação do dólar têm ajudado os lucros em dólares das empresas com rendimentos em euros."

Boom na América do Sul
Alinhada com os desempenhos globais das empresas americanas, a América do Sul foi a região onde o crescimento dos lucros foi mais expressivo. No primeiro trimestre, os lucros praticamente triplicaram, atingindo US$ 1,9 bilhão, contra US$ 663 milhões no mesmo período do ano passado. No Brasil, o saldo acumulado nos primeiros três meses de 2004 é de US$ 579 milhões.
Para Paulo Gomes, da consultoria brasileira Global Invest, o dinamismo do setor exportador brasileiro neste ano contribuiu para a expansão dos lucros das múltis no país.


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