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EM TRANSE
Aplicação no mercado financeiro rende mais que emprestar a exportador
Empresas também entram
na especulação com o dólar
CLÁUDIA DIANNI
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O problema dos financiamentos
para as exportações não é resultado apenas das dificuldades dos
bancos em tomar empréstimos
no exterior. Boa parte dos recursos disponíveis no mercado tem
sido usada por grandes empresas,
estimuladas pelos próprios bancos, não para financiar a produção exportável, mas para obter
ganhos em aplicações financeiras.
Isso tem diminuído ainda mais
a oferta de crédito para as empresas que precisam financiar a produção "exportável".
Diretores de bancos ouvidos pela Folha confirmaram a prática da
operação e disseram que o mesmo deve acontecer com as linhas
que o Banco Central passou a oferecer na semana passada, justamente para restaurar a falta de financiamento às exportações. O
BC pretende leiloar US$ 2 bilhões
para a exportação.
O ex-secretário-executivo da
Camex (Câmara de Comércio Exterior) Roberto Giannetti da Fonseca disse que muitos exportadores têm reclamado que não conseguem crédito nos bancos porque
os recursos foram desviados para
aplicações no mercado.
Essas transações são chamadas
de arbitragem. Ocorrem quando
as taxas de juros no mercado interno para determinadas operações superam as taxas cobradas
no exterior.
"As linhas de créditos para exportação estão sofrendo com a
concorrência com os próprios papéis do governo que, se parar de
emiti-los, não tem como rolar a
dívida pública", disse Giannetti.
Nas últimas semanas, devido às
turbulências no mercado, os juros
para aplicações em dólar no Brasil
-seja em títulos públicos corrigidos pela variação do câmbio seja
no mercado futuro- subiram
muito, o que tornou mais atraentes as operações de arbitragem.
Essas operações ocorrem principalmente com as linhas de ACC
(Adiantamento de Contratos de
Câmbio), que são o principal instrumento de financiamento à exportação. A operação ocorre da
seguinte forma: uma grande empresa já tem suas exportações previstas para determinada data, mas
não precisa antecipar os dólares
que tem a receber porque conta
com dinheiro em caixa suficiente
para financiar sua produção.
Mesmo assim, a companhia recorre ao banco e contrata um
ACC -às vezes a própria empresa procura, em outras, o banco
oferece- para utilizar os recursos em aplicações financeiras.
O banco converte os dólares recebidos pela empresa em reais e
os aplica em NTN-Ds, títulos do
Tesouro Nacional que, além da
variação do câmbio, pagam juros
aos investidores.
A taxa que a empresa tem de pagar em dólar sobre o crédito está
hoje, para operações de seis meses, em aproximadamente 12% ao
ano. Os papéis cambiais, com prazo de vencimento em seis meses,
rendem ao investidor 25% ao ano
de juros.
Ao quitar o ACC, a empresa paga os juros do empréstimo (de
12% ao ano), e lucra a diferença
do rendimento (13 pontos percentuais), que na verdade acaba
sendo repartida com o banco.
Outra opção de arbitragem é, no
lugar de aplicar o dinheiro em
NTN-Ds, os reais são investidos
em fundos que pagam juros variáveis de mercado (pós-fixados).
O banco então faz uma operação
de "swap" (troca de rentabilidade) para a empresa, que também
recebe juros em dólar.
Esse tipo de operação, no entanto, paga menos à empresa. A taxa
está em aproximadamente 20%
ao ano. Mas, nesse caso, os reais
ficam disponíveis para serem sacados pela empresa, que pode
usá-los como capital de giro.
De acordo com os diretores de
bancos ouvidos pela Folha, as
operações não são ilegais, portanto, o BC não tem como nem por
que coibir. Para o presidente da
AEB (Associação de Comércio
Exterior do Brasil), José Augusto
de Castro, mesmo não sendo ilegal, o negócio desvia recursos de
exportadores que realmente precisam de financiamento.
"Não é ilegal, mas é uma distorção porque o país capta recursos
no exterior, se endivida, mas esse
dinheiro gera zero de divisas, zero
de produção, zero de exportação,
nenhum emprego e só serve para
dar lucro a banqueiros", afirmou.
Segundo ele, operações de arbitragem são comuns e sempre
existiram. O problema é que,
quando não há maior oferta de
crédito no mercado, como atualmente, o dinheiro desviado faz
falta porque muitos exportadores
deixam de ser atendidos. De acordo com o BC, os recursos disponíveis para operações de crédito nos
bancos caíram de US$ 14 bilhões,
em janeiro, para US$ 11,8 bilhões
nas últimas semanas.
Por causa disso, o governo teve
de desviar R$ 2 bilhões do FAT
(Fundo de Amparo ao Trabalhador) para o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) reforçar as linhas de crédito a exportação e
atender a demanda recusada pelos bancos privados.
Além do dinheiro dos trabalhadores, o BNDES precisou captar
recursos em bancos estrangeiros,
adiantar saques de empréstimos e
pedir um novo empréstimo ao
BID para garantir um reforço aos
exportadores de mais US$ 2 bilhões até o fim do ano.
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