São Paulo, quarta-feira, 26 de junho de 2002

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ANÁLISE

Retração e vulnerabilidade

DA REPORTAGEM LOCAL

O s resultados das contas externas do mês passado mostram um país menos vulnerável, mas são também consequência da retração que atinge a economia brasileira.
A redução do déficit em transações correntes é um sinal positivo para o mercado. Um déficit menor reduz o receio de que o país não conseguirá os dólares necessários para cumprir seus compromissos externos. Mesmo a redução do volume de investimentos diretos não muda o cenário positivo que os números de maio sugerem: nos cinco primeiros meses do ano passado, os investimentos diretos eram suficientes para cobrir 75% do déficit; no mesmo período deste ano, o volume é maior que o déficit- corresponde a 102% do total.
A ressalva que fazem os analistas é em relação à qualidade do ajuste, ou seja, se os resultados positivos irão ou não se repetir daqui para a frente.
"Existem alguns indicadores para os quais precisamos olhar com atenção a partir de agora", diz Eduardo Berger, economista do Lloyds TSB. Berger lembra, por exemplo, que o volume de remessa de lucros e dividendos foi atipicamente alto, o que pode ser reflexo das turbulências e incertezas que atingem o Brasil
No entanto, não são as remessas que mais preocupam, mas o comportamento da balança comercial no médio e longo prazos. A dúvida dos economistas é se a economia brasileira continuará aumentando o superávit comercial quando voltar a crescer.
Por enquanto, não é possível medir quanto do aumento do saldo comercial ocorre por um esforço exportador permanente. Parte do resultado positivo é atribuído à retração da economia: como o consumo interno é baixo, as empresas decidem exportar e, como dólar subiu, importam menos. Esta parte das exportações desaparece quando o mercado interno se aquecer. Outro problema: as importações tendem a subir quando a economia cresce.
"A melhora é mais conjuntural. Por enquanto nós estamos adaptando o nível de atividade à restrição externa", diz o economista Antônio Corrêa de Lacerda, da Sobeet (Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e Globalização Econômica).
Istvan Kasznar, economista da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas, diz que ainda não é possível medir a parte do superávit comercial que é totalmente explicada pela retração da economia. "Mas eu não atribuiria o ato de exportar apenas à retração. Há tempos o empresariado entendeu a fragilidade do mercado doméstico. Todo o esforço de vendas do ano passado para cá está ajudando", diz.
Lacerda, da Sobeet, lembra que há indícios de que parte do investimento estrangeiro que entra no Brasil está ajudando a indústria a exportar mais de forma permanente. A proporção de dinheiro estrangeiro investido na indústria aumentou. O setor recebeu 18% do total de investimento estrangeiro entre 1996 e 2000, fatia que subiu para 32% do total no ano de 2001 e chegou a 42% no primeiro trimestre deste ano.
(MARCELO BILLI)


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