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ANÁLISE
Retração e vulnerabilidade
DA REPORTAGEM LOCAL
O s resultados das contas externas do mês passado mostram um país menos vulnerável, mas são também consequência da retração que atinge a
economia brasileira.
A redução do déficit em transações correntes é um sinal positivo
para o mercado. Um déficit menor reduz o receio de que o país
não conseguirá os dólares necessários para cumprir seus compromissos externos. Mesmo a redução do volume de investimentos
diretos não muda o cenário positivo que os números de maio sugerem: nos cinco primeiros meses
do ano passado, os investimentos
diretos eram suficientes para cobrir 75% do déficit; no mesmo período deste ano, o volume é maior
que o déficit- corresponde a
102% do total.
A ressalva que fazem os analistas é em relação à qualidade do
ajuste, ou seja, se os resultados
positivos irão ou não se repetir
daqui para a frente.
"Existem alguns indicadores
para os quais precisamos olhar
com atenção a partir de agora",
diz Eduardo Berger, economista
do Lloyds TSB. Berger lembra,
por exemplo, que o volume de remessa de lucros e dividendos foi
atipicamente alto, o que pode ser
reflexo das turbulências e incertezas que atingem o Brasil
No entanto, não são as remessas
que mais preocupam, mas o comportamento da balança comercial
no médio e longo prazos. A dúvida dos economistas é se a economia brasileira continuará aumentando o superávit comercial
quando voltar a crescer.
Por enquanto, não é possível
medir quanto do aumento do saldo comercial ocorre por um esforço exportador permanente.
Parte do resultado positivo é atribuído à retração da economia: como o consumo interno é baixo, as
empresas decidem exportar e, como dólar subiu, importam menos. Esta parte das exportações
desaparece quando o mercado interno se aquecer. Outro problema: as importações tendem a subir quando a economia cresce.
"A melhora é mais conjuntural.
Por enquanto nós estamos adaptando o nível de atividade à restrição externa", diz o economista
Antônio Corrêa de Lacerda, da
Sobeet (Sociedade Brasileira de
Estudos de Empresas Transnacionais e Globalização Econômica).
Istvan Kasznar, economista da
Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da
Fundação Getulio Vargas, diz que
ainda não é possível medir a parte
do superávit comercial que é totalmente explicada pela retração
da economia. "Mas eu não atribuiria o ato de exportar apenas à
retração. Há tempos o empresariado entendeu a fragilidade do
mercado doméstico. Todo o esforço de vendas do ano passado
para cá está ajudando", diz.
Lacerda, da Sobeet, lembra que há indícios de que parte do investimento estrangeiro que entra no Brasil está ajudando a indústria a exportar mais de forma permanente. A proporção de dinheiro estrangeiro investido na indústria
aumentou. O setor recebeu 18% do total de investimento estrangeiro entre 1996 e 2000, fatia que subiu para 32% do total no ano de 2001 e chegou a 42% no primeiro trimestre deste ano. (MARCELO BILLI)
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