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PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.
Inflação brasileira e mundial
Nas circunstâncias atuais, é mais razoável manter a meta de inflação de 2010 em 4,5% e o intervalo em 2 pontos
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ANTES DE entrar no assunto de
hoje, quero contar que um leitor me escreveu dizendo:
"Costumo ler os seus artigos porque
não encontro frases como a seguinte". E tascou uma frase do meu artigo daquele dia: "O investimento é ao
mesmo tempo um componente da
demanda e a variável da qual depende a ampliação da oferta agregada ao
longo do tempo". Terrível. Fiquei
acabrunhado com o espelho que o
leitor me ofereceu. Espero não incorrer no mesmo erro hoje.
Até que ponto é grave a inflação
que estamos experimentando em
2008? O brasileiro já estava até se
acostumando com certa estabilidade monetária. Cabe reagir com dureza e jogar a economia na recessão?
É o caso de continuar aumentando
os juros e correr o risco de derrubar
o crescimento econômico?
Bem. A preocupação com a alta
dos preços se justifica, não há dúvida. A taxa de inflação medida pelo
IPCA subiu para 5,6% nos 12 meses
até maio. A inflação relevante para
os mais pobres aumentou mais, uma
vez que a alta recente vem sendo comandada pelos alimentos, que pesam no orçamento das famílias de
baixa renda.
Conviria, diga-se de passagem,
corrigir o Bolsa Família não pelo IPCA ou mesmo pelo INPC, mas por
um índice que refletisse a estrutura
de gastos da população pobre. Isso é
melhor do que dar subsídios generalizados retardando os reajustes de
preços controlados ou monitorados.
É preciso colocar o problema da
inflação brasileira em perspectiva.
Neste momento, a inflação está subindo em quase todos os países. O
rápido aumento dos alimentos, do
petróleo e de outras matérias-primas é o maior choque de preços na
economia mundial desde a década
de 1970. A inflação aumentou em 40
das 42 principais economias do
mundo.
A inflação brasileira não é alta para padrões internacionais. Está apenas um pouco acima da inflação nos
EUA (4,2%) e na zona do euro
(3,7%). É mais baixa do que a que se
observa na grande maioria dos países em desenvolvimento. Entre os
principais países de mercado emergente, só o México e a Coréia do Sul
registram inflações inferiores à brasileira.
Fez-se muito barulho em torno do
fato de que a inflação ultrapassou o
centro da meta oficial em 2008, que
é de 4,5%. Não se pode perder de vista, entretanto, que o regime brasileiro de metas para a inflação tem alguma flexibilidade, que foi sabiamente
preservada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), contrariando
algumas opiniões domésticas (setores do BC e do mercado) e estrangeiras (FMI). A inflação continua abaixo do teto da meta, que é de 6,5%.
Em junho de 2007, logo antes do início do choque de preços externos,
havia quem preferisse reduzir o centro da meta de inflação para 4% em
2009 e o intervalo de tolerância de 2
pontos percentuais para 1,5 ponto
para cima e para baixo do centro da
meta. Prevaleceu a decisão de preservar a flexibilidade, o que veio a calhar dada a intensidade do choque externo de preços desde o segundo
semestre de 2007.
A propósito, o CMN terá de fixar
até o fim deste mês a meta e o intervalo de tolerância para 2010. Espero
que um acesso de "machismo monetário" não leve o CMN a aceitar, desta vez, sugestões de diminuição da
meta e do intervalo. Nas circunstâncias atuais, é mais razoável manter a
meta em 4,5% e o intervalo em 2
pontos.
Dos países que adotam o regime
de metas, o Brasil é um dos poucos
que estão conseguindo cumprir a
meta. Na grande maioria, a inflação
ultrapassou o teto fixado, em alguns
casos por larga margem.
Em resumo, a inflação brasileira
requer cuidados, mas não há motivos para pânico ou reações radicais
da política monetária.
PAULO NOGUEIRA BATISTA JR. , 53, escreve às quintas-feiras nesta coluna. Diretor-executivo no FMI, representa um grupo de nove países (Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Haiti, Panamá, República Dominicana, Suriname e Trinidad e Tobago).
pnbjr@attglobal.net
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