São Paulo, terça-feira, 26 de agosto de 2008

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BENJAMIN STEINBRUCH

Os gênios de Pequim


Certamente não havia gênios inatos entre os atletas nos Jogos Olímpicos; a educação básica é o princípio de tudo

PERGUNTE a qualquer pessoa o nome de alguém que considera gênio. Certamente, muitos responderão imediatamente: Einstein. Não há dúvida, Albert Einstein foi uma pessoa genial. Mas, será que ele já nasceu assim?
No livro "Einstein, Sua Vida, Seu Universo", de Walter Isaacson, o autor conta que, em 1907, aos 28 anos, o jovem Albert candidatou-se a um cargo subalterno no primeiro degrau da escala acadêmica na Universidade de Berna, na Suíça.
Ao seu currículo e à proposta de trabalho, ele anexou 17 artigos, inclusive os que tratavam da teoria da relatividade, que poucos anos depois lhe dariam o Prêmio Nobel e revolucionariam a física.
O pedido de emprego do candidato Einstein foi rejeitado pela esmagadora maioria dos membros do comitê acadêmico da universidade -só um professor o aprovou. Por isso, o gênio da física passou muitos anos trabalhando como funcionário público de terceira classe, na função de examinador de patentes do Escritório Federal de Propriedade Intelectual de Berna.
Walter Isaacson desmente a lenda de que Einstein foi reprovado em matemática no colégio. Mas, ao longo da vida do cientista, há claras evidências de que essa matéria não era mesmo o seu forte. Inúmeras vezes ele recorreu a físicos amigos para desenvolver as fórmulas matemáticas de suas descobertas geniais. Na faculdade, foi aprovado em penúltimo lugar da classe nessa disciplina.
Pouco antes de morrer, em 1955, Einstein determinou que suas cinzas fossem espalhadas, porque ele não queria que o local de seu descanso final se tornasse alvo de veneração mórbida.
Antes da cremação, porém, o patologista do Princeton Hospital responsável pela autópsia retirou o cérebro do cientista.
Embalsamado, o órgão foi enviado em pequenos pedaços a vários pesquisadores para que tentassem descobrir ali as razões da genialidade do físico. Alguns estudos desses cientistas foram publicados mostrando diferenças do cérebro de Einstein em relação aos cérebros de outras pessoas.
Mas não foi possível estabelecer se os atributos diferenciados eram a causa da inteligência superior ou se seriam o efeito dos longos anos de exercícios cerebrais intensos a que Einstein se submeteu.
Nos Jogos Olímpicos de Pequim, encerrados no domingo, quando muitos atletas deram inacreditáveis exemplos de superação, foi impossível não fazer a relação entre a genialidade de atletas como Michael Phelps e a de Einstein.
Ao ganhar oito ouros numa mesma Olimpíada e tornar-se o maior campeão entre todas as modalidades na história dos Jogos, o nadador americano suscitou a mesma pergunta que se faz até hoje a respeito do gênio da relatividade: será que ele nasceu assim? Ou a genialidade na piscina terá sido construída a partir de determinação e perseverança? Gênios nascem gênios ou se tornam geniais?
A passarela de Pequim, com pessoas de todas as raças e de todas as cores, não teria mostrado então nada além de corpos e cérebros muito bem treinados e determinados.
O desfile olímpico chamou a atenção pelas demonstrações de genialidade com a incrível seqüência de recordes quebrados.
Entre os atletas, certamente não havia gênios inatos -a educação básica é o princípio de tudo.
Mas todos, inclusive nosso campeão da natação César Cielo, comportaram-se como Einsteins nos campos de Pequim.


BENJAMIN STEINBRUCH, 54, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).

bvictoria@psi.com.br


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