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GOVERNO
Ex-sindicalistas defendem movimento, o maior da gestão Lula; para Olívio Dutra, bancos têm de compartilhar lucros "fenomenais"
Ministros dão apoio à greve dos bancários
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva e ministros de origem sindicalista assumem publicamente o
apoio à greve nacional dos bancários, que completa duas semanas
amanhã. É a maior greve realizada durante o atual governo, e governos não costumam estimular
movimentos do gênero.
"Os bancários têm carradas de
razão", diz Olívio Dutra, ministro
das Cidades. Ele presidiu o Sindicato dos Bancários de Porto Alegre, é um dos fundadores do PT e
da CUT (Central Única dos Trabalhadores), foi deputado federal,
prefeito da capital e governador
do Rio Grande do Sul.
O ministro Luiz Gushiken (Comunicação de Governo) acrescenta: "Greve é um procedimento
normal, direito em qualquer país
civilizado. O importante é não
acirrar os conflitos a ponto de inviabilizar a negociação". Ele liderou, à frente do Sindicato dos
Bancários de São Paulo, a maior
greve de bancários do país, em 85.
Ao ressalvar que não está acompanhando bem a atual greve, Gushiken opinou que ela está demorando muito. "Quanto mais o
tempo passa, pior, porque a população começa a ficar irritada",
disse ele à Folha, depois do encontro de sexta-feira entre líderes
do movimento e o ministro Ricardo Berzoini (Trabalho).
Berzoini também começou a
carreira política no movimento
sindical dos bancários, assim como Gushiken e Olívio Dutra (Cidades). Todos tiveram intensa
presença em greves da categoria.
"A atual greve é justa, legítima,
até porque o sistema financeiro
brasileiro nunca perdeu, nem na
ditadura nem na redemocratização, e nunca compartilhou nada",
disse Olívio.
"E no atual governo também?",
perguntou-lhe a Folha.
"Sim, continua", respondeu o
ministro, defendendo, porém,
que a política econômica está
dando certo, o país está crescendo
e gerando empregos.
Olívio acha que "está na hora de
as instituições financeiras compartilharem um pouco de seus lucros fenomenais com a sociedade
e com os trabalhadores da categoria, os bancários". "Há uma defasagem enorme nos salários. Os
bancários têm sofrido perdas
grandes, e os bancos nunca perdem nada", enfatizou.
Olívio contou que conversou
com Berzoini sobre a greve e que
os dois pensam da mesma maneira: "O Berzoini e eu temos a mesma opinião, a de que as greves são
uma tradição dos bancários".
De Gushiken: "Toda vez que a
economia entra em recessão, o
movimento sindical reflui. Quando começa a dar sinais de reaquecimento, como agora, é evidente
que o movimento volta e o processo de reivindicação dos bancários ganha ímpeto".
Como parte das lideranças da
categoria vem de bancos públicos,
especialmente do Banco do Brasil
e da Caixa Econômica Federal,
Olívio Dutra faz uma distinção:
essas duas instituições costumam
negociar melhor com seus funcionários, mas o padrão geral acaba
sendo mais baixo porque é estabelecido pela Fenaban (Federação
Nacional dos Bancos).
As declarações dos ministros
bancários a favor da greve estão
sintonizadas com as do próprio
Lula que, em entrevista a radialistas, na quinta-feira, disse que "os
trabalhadores fizeram sacrifício
quando tinham de fazer e, na medida em que o banco anuncia um
ganho muito bom, é normal que
queiram recuperar sua renda".
Dados cruzados indicam que a
rentabilidade dos bancos subiu de
9,8% em 1994 para 20% em 2003,
enquanto o piso salarial dos bancários caiu de 4,3 salários mínimos para 2,6 no mesmo período.
Olívio Dutra diz que a greve dos
bancários tem até um papel pedagógico: "A sociedade está atenta, e
os bancários estão ajudando a sociedade a ter essa consciência [dos
lucros do sistema financeiro, não
repartidos com a população]".
Apesar das declarações públicas
favoráveis ao movimento, internamente o governo teme que a
greve dos bancários se estenda
para outras categorias sob o embalo dos sinais do reaquecimento.
Por isso, a cúpula do governo
volta a falar em "pacto social", tema recorrente na posse de Lula, e
passível de voltar à pauta após as
eleições municipais. Está sob a
mesa do ministro Jaques Wagner
(Conselho de Desenvolvimento
Econômico), também líder sindical: dirigiu o Sindiquímica na Bahia e fundador da CUT no Estado.
O ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) é contra a proposta.
Avalia que agora, com a retomada
do crescimento, não há necessidade desse tipo de medida, mas
considera importante a discussão.
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