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DEZ ANOS DE REAL
Plano controla inflação, mas não contém alta do desemprego nem queda na renda
Conquistas sociais da nova moeda não se sustentam
FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
O Plano Real acabou com o descontrole da inflação, melhorou a
distribuição de renda, aumentou
o ganho dos trabalhadores e diminuiu a proporção de pobres. Mas
essa boa fase da economia ocorreu apenas no seu início -até 97.
Dez anos após a implementação
do real, os indicadores econômicos e sociais do país mostram que
parte das conquistas decorrentes
da nova moeda se dissipou -a
desigualdade social se manteve alta, o desemprego aumentou e a
renda dos trabalhadores caiu.
Em 93, antes da nova moeda, a
concentração de renda no país,
medida pelo índice Gini, alcançava 0,60 -a escala varia de zero a
um (se mais próxima de um,
maior a desigualdade). Esse nível
de concentração era um dos mais
altos do mundo desde o início dos
anos 80. O rendimento médio
mensal real do trabalhador (R$
547) era um dos mais baixos, e a
proporção de pobres -44% da
população-, uma das mais altas.
Com o Real, o índice Gini caiu
para 0,58, de 95 a 97. Para 0,57, em
98, e para 0,56, de 99 a 2002. O
rendimento médio mensal real
pulou para a faixa de R$ 700 e
cresceu até 97. A proporção de
pobres ficou entre 33% e 35% da
população até 2002. Não há dados
nacionais mais recentes.
Os efeitos do Real começaram a
perder força a partir de 97, terceiro ano do primeiro governo de
FHC, em decorrência de crises financeiras em diferentes regiões,
como as da Ásia (97) e da Rússia
(98), que tiveram impacto no país
-o primeiro foi a alta dos juros.
O rendimento médio real do
trabalhador, que atingiu R$ 725
em 96, caiu, ano a ano, até 2002,
quando chegou a R$ 636, segundo
o IBGE, com base na Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios) daquele ano.
Só na região metropolitana de
São Paulo, a queda na renda do
trabalhador foi de 33% entre 1995
e 2003 (de R$ 1.384 passou para
R$ 928), segundo o Dieese.
A manutenção da proporção de
pobres na faixa de 34% a 35% da
população -uma das mais elevadas do mundo- também mostra
que os efeitos do Real tiveram um
limite, analisam os especialistas.
"A pobreza diminuiu no início
do Real, mas foi uma queda pontual. A desigualdade se manteve
no país", diz Sônia Rocha, coordenadora de projetos do Instituto
Brasileiro de Economia da FGV.
Um ano após a implementação
do Real, os 50% mais pobres ficaram com 13,3% do total de rendimentos do país, enquanto o 1%
mais rico detinha 13,4%. Em 2002,
esses percentuais foram de 14,4%
e de 13,5%, respectivamente, segundo dados da Pnad.
Na Grande São Paulo, a desigualdade também se manteve.
Em 95, os 10% mais ricos da população ocupada detinham 42,1%
dos rendimentos. Em 2003,
41,8%. Os 10% mais pobres ficaram com 1% dos rendimentos em
95 e em 2003, segundo o Dieese.
Para Mansueto Almeida, coordenador de estudos regionais do
Ipea, o Real "cumpriu seu papel,
de estabilizar a inflação, mas falhou ao não gerar um padrão de
crescimento para beneficiar os
mais pobres".
A decisão do governo de manter
uma política de juros altos contribuiu para que os efeitos do Real
perdessem força, como mostra o
indicador de participação do consumo das famílias sobre o PIB.
Em 96 e em 97, essa participação
era de pouco mais de 62%. No ano
passado, estava em 56,9%.
Os trabalhadores também perderam participação no total do
PIB entre 94 e 2002, como mostra
o indicador da distribuição funcional da renda -dividida em capital, trabalho e governo.
No ano em que o Real foi lançado, a renda do trabalho correspondia a 37,7% do PIB. Em 2002,
caiu para 31,4%. Já a do capital subiu de 39% para 43,2%. A do governo, de 23,4% para 25,4%.
"Essa dinâmica da distribuição
da renda emperrou o crescimento
da economia", diz Claudio Dedecca, professor da Unicamp.
Se os trabalhadores têm menos
renda, consomem menos. A economia enfraquece e o desemprego cresce. Nas seis regiões metropolitanas do país, a taxa de desemprego, que, de 94 a 97, estava
na faixa de 5%, subiu para 7,6%
em 98 e se manteve nesse nível até
2002, segundo pesquisa mensal
de emprego, do IBGE. A partir de
2003, a taxa subiu para outro patamar -perto de 12%- por causa de mudança de metodologia na
pesquisa. Em maio de 2004, chegou a 12,2%.
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