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Fazenda defende cobrar ponto extra na TV a cabo
Pela 2ª vez no mês, secretaria contraria Anatel
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
O Ministério da Fazenda bateu de frente com a Anatel
(Agência Nacional de Telecomunicações) em relação à cobrança do ponto extra na TV
paga. A Seae (Secretaria de
Acompanhamento Econômico) criticou o fim da cobrança
proposto pela agência, se alinhando com as empresas privadas que atuam no setor. A
Anatel não quis comentar.
É a segunda vez, neste mês,
que a Fazenda discorda da Anatel. A primeira foi na consulta
pública sobre a mudança do
Plano Geral de Outorgas, para
viabilizar a compra da Brasil
Telecom pela Oi. Na ocasião, a
Seae criticou a proposta de separação funcional entre os serviços de telefonia fixa e de banda larga, defendida pela Anatel,
e ficou do lado das teles.
Para o órgão da Fazenda, o
fim da cobrança do ponto extra
na TV paga não traria nenhum
benefício econômico ou concorrencial e seria potencialmente danoso, do ponto de vista social, porque os assinantes
de menor renda, que têm apenas um televisor em casa, ""subsidiarão os assinantes de maior
renda". O pressuposto é que os
custos das empresas com os
pontos extras serão diluídos
por toda a base de assinantes.
Como da primeira vez, a manifestação da Seae foi assinada
pelo coordenador-geral da área
de Comunicação e Mídia, Marcelo Ramos. O texto está no site
da Anatel, na consulta pública
nº 29, sobre os direitos dos assinantes de TV paga.
Segundo a Seae, a cobrança
pelo ponto extra é prática corrente em muitos países, e o
Brasil é um dos que cobram
preço mais alto (cerca de R$ 25
por mês), numa evidência da
falta de competição. Ela dá como exemplos o Canadá (onde o
serviço corresponde a R$ 7,50
por mês), EUA (R$ 8), Argentina (de R$ 3 a R$ 5), África do
Sul (R$ 11,50) e França (R$ 24).
Segundo a Seae, no México,
no Canadá e nos EUA, onde as
operadoras de TV a cabo e telefonia competem com pacotes
"triple play" (telefonia, TV paga
e internet), o valor do ponto extra é um terço do que se cobra
no Brasil, mas a proibição de
cobrança do ponto extra, por si
só, não resolveria o problema.
Ao tentar proibir a cobrança
do ponto extra de TV paga, a
Anatel provocou protestos das
companhias telefônicas -que
já começam a oferecer televisão por assinatura-, dos programadores internacionais de
canais pagos e até das indústrias de equipamentos eletrônicos, como a Motorola, a Cisco
e a Nokia Siemens.
A Turner (programadora dos
EUA) disse que as operadoras
deixarão de oferecer o ponto
extra. ""O consumidor terá de
contratar duas assinaturas para
ter mais de um televisor com
TV por assinatura em casa; haverá aumento do preço dos pacotes, em razão do repasse do
aumento de custo. O consumidor final será o maior prejudicado", afirma.
A Globosat também previu
queda na audiência dos canais
pagos e diminuição do investimento publicitário. Curiosa é a
concordância circunstancial
entre as teles e a ABTA (Associação Brasileira de Televisão
por Assinatura). Adversárias
ferrenhas em relação à entrada
das teles no mercado de TV paga, ABTA, Telefônica e Oi defendem a cobrança extra.
Confusão
A cobrança do ponto extra
deveria ter terminado em junho, com a entrada em vigor do
Regulamento de Proteção e Defesa dos Direitos dos Assinantes dos Serviços de Televisão
por Assinatura, aprovado em
dezembro pela Anatel.
O texto deu margem a interpretações divergentes. A Anatel reconheceu que o texto era
ambíguo e suspendeu a proibição da cobrança até a edição de
novo regulamento. Em 26 de
junho, a ABTA obteve liminar
para manter a cobrança.
A Anatel colocou em consulta pública outra versão do regulamento, que mantém a proibição. Pela nova versão, as operadoras poderão cobrar só por
"instalação" e "reparo da rede
interna e dos conversores/decodificadores de sinal ou equipamentos similares". O prazo
para encaminhamento de sugestões à Anatel terminou na
segunda-feira. Segundo a agência, não há previsão de prazo
para a divulgação do texto final.
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