São Paulo, sábado, 28 de junho de 2008

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"Não há censura no Ipea", diz Pochmann

Presidente do instituto de pesquisas nega que decisão de suspender relatórios trimestrais represente "esvaziamento" das atividades

Para economistas, mudança representa um prejuízo para a credibilidade do Ipea; Pochmann diz que decisão não partiu de Mangabeira

JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO

Marcio Pochmann, presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), ligado ao governo, afirmou ontem que não há censura no instituto e que a decisão de suspender a revisão trimestral das previsões de desempenho da economia foi tomada pela diretoria do instituto, sem a participação do ministro Mangabeira Unger (Assuntos Estratégicos) ou da Presidência da República.
Na última quinta-feira, o instituto divulgou a Carta de Conjuntura sem a atualização das previsões para o PIB (Produto Interno Bruto) e a inflação, entre outros indicadores. As projeções passarão a ser divulgadas em março e serão revistas caso se comprove erro.
Economistas ouvidos pela Folha afirmaram que a medida era uma forma de "esvaziamento" do instituto e representava um prejuízo à credibilidade conquistada ao longo das últimas décadas.
Pochmann nega que a mudança seja um sinal de que o instituto se tornaria "chapa branca". "A mudança sinaliza que agora, quando o Ipea projeta, é porque tem muita certeza. Precisamos nos preparar melhor para pensar o longo prazo. Antes, o Ipea era mais uma instituição que focava no curto prazo. O país precisa de instituições que pensem o longo prazo. A China tem metodologia de projeção de 50 anos. Dizemos o que pensamos como instituição. Não há censura no Ipea", disse.

Mercado
Segundo João Sicsú, diretor de Estudos Macroeconômicos do Ipea, os estudos e análises do instituto não têm influência sobre o mercado financeiro. Durante a divulgação da Carta de Conjuntura, um dos técnicos disse que não queria alimentar expectativas inflacionárias com a divulgação das previsões.
Sobre o aparente desconforto de parte dos técnicos com as mudanças, Sicsú afirmou que a alteração foi institucional. "Tenho certeza de que nenhum técnico mostrou concordância ou discordância. Nesse caso é uma posição da instituição, os técnicos estavam conscientes do que havia sido discutido, e há total liberdade para a divulgação de idéias, previsões e estudos individuais", disse.
Questionado sobre a sua visão individual do comportamento da inflação para este ano, Sicsú não apontou um número, mas disse que espera que ela termine o ano dentro da meta definida pelo Banco Central, cujo centro é de 4,5% com margem de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo.
"A inflação brasileira está se acelerando, e isso é preocupante. Os alimentos estão subindo a uma velocidade quatro vezes maior do que a dos demais preços, e essa inflação atinge basicamente os mais pobres", disse o diretor do Ipea.
Nos últimos 12 meses encerrados em maio, a inflação dos alimentos subiu 14,6% e a dos demais itens acumulou alta de 3,2%.


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