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"Não há censura no Ipea", diz Pochmann
Presidente do instituto de pesquisas nega que decisão de suspender relatórios trimestrais represente "esvaziamento" das atividades
Para economistas, mudança representa um prejuízo para a credibilidade do Ipea; Pochmann diz que decisão não partiu de Mangabeira
JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO
Marcio Pochmann, presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), ligado ao governo, afirmou ontem que não há censura no instituto e que a decisão de suspender a revisão trimestral das
previsões de desempenho da
economia foi tomada pela diretoria do instituto, sem a participação do ministro Mangabeira
Unger (Assuntos Estratégicos)
ou da Presidência da República.
Na última quinta-feira, o instituto divulgou a Carta de Conjuntura sem a atualização das
previsões para o PIB (Produto
Interno Bruto) e a inflação, entre outros indicadores. As projeções passarão a ser divulgadas em março e serão revistas
caso se comprove erro.
Economistas ouvidos pela
Folha afirmaram que a medida
era uma forma de "esvaziamento" do instituto e representava
um prejuízo à credibilidade
conquistada ao longo das últimas décadas.
Pochmann nega que a mudança seja um sinal de que o
instituto se tornaria "chapa
branca". "A mudança sinaliza
que agora, quando o Ipea projeta, é porque tem muita certeza.
Precisamos nos preparar melhor para pensar o longo prazo.
Antes, o Ipea era mais uma instituição que focava no curto
prazo. O país precisa de instituições que pensem o longo
prazo. A China tem metodologia de projeção de 50 anos. Dizemos o que pensamos como
instituição. Não há censura no
Ipea", disse.
Mercado
Segundo João Sicsú, diretor
de Estudos Macroeconômicos
do Ipea, os estudos e análises
do instituto não têm influência
sobre o mercado financeiro.
Durante a divulgação da Carta
de Conjuntura, um dos técnicos disse que não queria alimentar expectativas inflacionárias com a divulgação das
previsões.
Sobre o aparente desconforto de parte dos técnicos com as
mudanças, Sicsú afirmou que a
alteração foi institucional. "Tenho certeza de que nenhum
técnico mostrou concordância
ou discordância. Nesse caso é
uma posição da instituição, os
técnicos estavam conscientes
do que havia sido discutido, e
há total liberdade para a divulgação de idéias, previsões e estudos individuais", disse.
Questionado sobre a sua visão individual do comportamento da inflação para este
ano, Sicsú não apontou um número, mas disse que espera que
ela termine o ano dentro da
meta definida pelo Banco Central, cujo centro é de 4,5% com
margem de tolerância de dois
pontos percentuais para cima
ou para baixo.
"A inflação brasileira está se
acelerando, e isso é preocupante. Os alimentos estão subindo
a uma velocidade quatro vezes
maior do que a dos demais preços, e essa inflação atinge basicamente os mais pobres", disse
o diretor do Ipea.
Nos últimos 12 meses encerrados em maio, a inflação dos
alimentos subiu 14,6% e a dos
demais itens acumulou alta de
3,2%.
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