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Economia foge do IGP-M após altas na taxa
Elétricas, concessionárias de serviços e gestoras de imóveis tentam negociar outros índices para corrigir seus custos
Críticos afirmam que IGPs não reproduzem mais a dinâmica de preços;
para defensores do índice, ataques são oportunistas
TONI SCIARRETTA
AGNALDO BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL
Empresas e consumidores
com dívidas e custos atrelados
ao IGP-M -como aluguéis, financiamentos e serviços- tentam trocar de indexador e se
proteger de uma eventual disparada no índice, como aconteceu em 2002, quando saltou
25,31% por conta da alta de
53,2% do dólar. Agora que o dólar cai 10% no ano e o IGP-M
sobe 6,82%, o índice se tornou
acoplado ao preço das commodities, que pouca sensibilidade
têm à política do BC.
Empresas do setor elétrico
tentam trocar dívidas antigas
corrigidas pelo IGP-M por
meio da emissão de debêntures
indexadas ao CDI. A Duke
Energy, dona da Paranapanema, chegou a pedir o lançamento de debêntures para quitar
uma dívida de R$ 1 bilhão com a
Eletrobrás, mas a emissão foi
suspensa por conta da crise.
Além de alongar os vencimentos, a empresa economizaria
R$ 50 milhões em custos.
A imobiliária Cushman &
Wakefield introduziu no país
um serviço para renegociar aluguéis corrigidos pelo IGP-M.
Segundo Milena Morales, a
proposta mais aceita até o momento foi a troca do IGP-M por
uma cesta de índices.
Até o Tesouro Nacional tem
se afastado do IGP-M. Desde
dezembro de 2006, não emite
as NTN-C, títulos corrigidos
pelo índice.
Criado há quase 20 anos pelo
mercado financeiro para corrigir contratos específicos do setor -derivativos, letras de câmbio e rolagem de dívidas-, o
IGP-M se tornou o principal indexador da economia. No contexto da espiral hiperinflacionária de 1989, quando surgiu, o
IGP-M trouxe como vantagem
a divulgação da taxa fechada no
penúltimo dia do mês. Com a
conveniência, acabou indexando os aluguéis, que, à época, subiam todos os meses. Nas privatizações, o índice se tornou
indexador de serviços porque o
governo quis garantir o interesse estrangeiro nas empresas.
O problema é que 60% de sua
composição vem dos preços coletados no atacado, que dizem
respeito aos custos de insumos
e não refletem as despesas de
administradores de estradas,
TV paga e de donos de imóveis.
Para os críticos, o IGP-M não
reproduz mais a dinâmica de
repasse dos preços nem permite atrelar os riscos aos custos de
uma empresa com as receitas.
"O IGP-M mistura maçã com
laranja e banana. Também não
é só um preço do atacado e cria
essa indexação indesejável, que
propaga uma memória inflacionária que não tem reflexo no
futuro", diz Marcelo Salomon,
economista do Unibanco.
"É uma composição esdrúxula. Foi utilizado como uma
"proxy" [aproximação] do dólar.
Qual a lógica de utilizar o IGP-M se quero corrigir o valor de
minha renda de aluguel?", pergunta o economista João Luiz
Mascolo, do Ibmec-SP.
Responsável pela pesquisa
do IGP-M, Salomão Quadros
afirma que a FGV atualiza periodicamente a composição dos
preços do atacado e do varejo
para refletir a o consumo desses setores. Só não foi mexido o
peso de 60%, 30% e 10%. "O
IGP-M tem de ser entendido
por camadas, que refletem diferentes custos da economia. Ele
foi criado num momento do
país e virou referência de preços. Como as necessidades de
indexação mudam, também
deve mudar a utilização dos índices de inflação", disse.
Paulo Sampaio, da Andima,
uma das patrocinadoras do
IGP-M, vê como "oportunistas" as críticas ao índice. "Essa
discussão sobre o IGP-M acontece sempre que a inflação sobe. Discutir mudança de indexador é viável desde que debatido pelas partes. Só não vale trocar índice que sobe."
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