São Paulo, domingo, 28 de julho de 2002

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AÇO

Banco pretende descobrir se houve fusão ou venda e garantir créditos de US$ 660 milhões que tem a receber da Vicunha

BNDES vai auditar a transação CSN-Corus

CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO

O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) vai contratar auditores internacionais para examinar os termos do contrato da transação entre a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) e a anglo-holandesa Corus.
Além disso, o banco vai criar um grupo de trabalho interno, formado por advogados, economistas e especialistas em siderurgia, com o mesmo objetivo.
O banco estatal tem dois objetivos: constatar se foi realmente uma fusão ou se a Corus simplesmente adquiriu a CSN; e saber se seus créditos de aproximadamente US$ 660 milhões com a Vicunha Siderurgia continuarão adequadamente resguardados.
Segundo a Folha apurou, há dentro do BNDES setores fortemente preocupados com o negócio entre as duas siderúrgicas, anunciado há duas semanas.
Quando foi feito o descruzamento de participações entre CSN e Vale do Rio Doce, no final de 2000, o banco apostou suas fichas na nova composição acionária da CSN, controlada pelo grupo Vicunha, como ponto de partida de criação de uma siderurgia de porte internacional com capital majoritariamente brasileiro.
Para dirigentes do banco, essa estratégica fracassou com a CSN-Corus. A preocupação com a política industrial do país, porém, é apenas pano de fundo no conjunto de dúvidas que afligem executivos do BNDES quanto ao negócio CSN-Corus. Antes de mais nada, o banco quer saber se tem ou não direito a seu quinhão no negócio.
Pelos contratos assinados na época do descruzamento, o BNDES teria direito a até 70% do lucro obtido pelo Vicunha na venda das ações da CSN, dependendo do prazo em que isso ocorresse. Há suspeitas no mercado de que a anunciada fusão seria uma forma de driblar a cláusula contratual.
O exame sobre a operação tratará também das garantias de empréstimos realizados pelo BNDES, como a renegociação de uma dívida de US$ 250 milhões.
O banco alongou o prazo de pagamento da Vicunha e uniformizou os custos da dívida. A garantia dada foi 12% do capital da CSN, retirados das ações do bloco de controle da siderúrgica.
Com o negócio CSN-Corus, o BNDES quer saber se essas garantias ficaram enfraquecidas. Entenda-se: a CSN é uma empresa ajustada, considerada uma das mais eficientes do mercado de aço, embora venha apresentando sucessivos prejuízos (R$ 197,4 milhões no primeiro trimestre deste ano), decorrentes, principalmente, do peso de carregar uma dívida líquida que era de US$ 2,1 bilhões em 31 de março deste ano.
Já a Corus é considerada problemática. Com 47 mil empregados, é vista por analistas como uma empresa inchada, que precisa se ajustar. Em 2000 e 2001, acumulou prejuízos de US$ 2,2 bilhões.
O BNDES quer que os auditores internacionais façam uma checagem completa nas contas da gigante anglo-holandesa antes de dar aval para o negócio. Os técnicos do BNDES avaliam que todo esse trabalho, incluindo o exame dos documentos até agora assinados, vai demorar meses. Até lá, a ordem dentro do banco é para ninguém falar sobre o assunto.
A Vicunha Siderurgia tem atualmente uma dívida de cerca de R$ 1,2 bilhão com o BNDES, Bradesco, BBA, Unibanco e Banco do Brasil Investimentos, referente a debêntures emitidas em março de 2001. Antônio Ulrich, diretor-executivo da CSN, afirma que já foram iniciadas conversações com os bancos sobre o negócio com a Corus. "Afinal, a CSN e Corus terão de trocar ações, e os bancos precisam dar o aval."


Colaborou a Reportagem Local


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